Família: Estrangeiro Habitual

Família: Estrangeiro Habitual

A família é normalmente nosso primeiro espaço de convívio com outras pessoas. É através dela que encontramos comportamentos que se tornam habituais, mas também é um lugar de reconhecimento das diferenças. Dito isso, nem sempre essa convivência é fácil e por vezes, este pode ser um ambiente muito mais hostil do que amigável. Para tornar a situação ainda mais complexa, podemos mudar de emprego e de casa, mas se descolar de uma família é tarefa quase impossível.

Raras são às vezes em que recebo pacientes em consultório que não falam muito das relações familiares na sessão inicial. Boas ou más, elas nos marcam. Nos primeiros anos de vida, aquelas pessoas ao nosso redor funcionam como referências de um mundo compartilhado. O grande problema é que não conseguimos inicialmente avaliar se tem a ver com condutas pertinentes ou não.

Na adolescência, começamos a perceber que existem outras visões de mundo e, na idade adulta, estamos finalmente aptos a ponderar quais perspectivas fazem sentido para a vida que pretendemos viver e quais aquelas que preferimos deixar para trás. Mas como abandonar aquilo que, por mais que saibamos que não nos faz bem, estamos demasiadamente habituados?

Infelizmente, não há resposta pronta. Na verdade, há muito o que se tentar. Auto e hetero conhecimento são fundamentais, juntamente com respeito mútuo. O diálogo nem sempre é possível, mas a empatia é sempre desejável. Em alguns casos, a ancoragem ou o retorno ao seio familiar parecem fazer mais sentido. Em outros, a partida é inevitável. Mas, mesmo longe, da família não se escapa. Mesmo na mais radical e constante discordância. Mesmo sem querer, repetimos até o que não gostamos.

É na família, especialmente na idade adulta, que exercitamos da forma mais brutal o acolhimento do estranho. Na rotina, aprendemos a conceder àquilo que nos é diferente com os sabores, cores e texturas do habitual. Repetimos e elaboramos até conseguir compreender. E repetimos mais tantas outras vezes até um dia, quem sabe, conseguir mudar.

Thabata Telles
Psicóloga

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