Relações Interpessoais: como Entendemos e Cuidamos Disto?
Neste ano letivo, fui professora de uma unidade curricular de relações interpessoais. Evito aulas expositivas e gosto de trabalhar a partir de situações. Em duas delas, trouxe confronto entre familiares e os alunos acabaram por solucionar ambos os conflitos através de separação ou divórcio. Quando coloquei isto para o grupo e perguntei se eles não conseguiram ver mesmo outra solução, vi olhares de espanto. Eles perceberam o quanto que muitas vezes não contamos com a possibilidade do diálogo, dos acordos, da compreensão mútua e de tantas outras estratégias que poderíamos elencar para nos ajudar a lidar com pessoas que pensam ou agem diferentemente de nós.
Eu poderia direcionar este texto para o uso excessivo das redes sociais e as possibilidades que este meio oferece para “cancelar” o outro, como também tratar da pandemia e do tanto que passamos a ficar mais solitários, inclusive na resolução de problemas. Entretanto, ao conversar sobre este assunto com pessoas de diferentes gerações e culturas, chego a um ponto muito mais elementar: nós não tratamos das relações interpessoais com a seriedade que o tema merece.
Falamos muito sobre a importância de termos boas relações uns com os outros, mas conhecemos poucas pessoas com grau satisfatório neste quesito, a começar pelo básico: autoconhecimento. Como poderemos gerir bem nossas emoções e comunicar-nos bem com os outros se não nos conhecemos bem? Assim, naquela unidade curricular discutimos o que são as emoções, quais as que mais conhecemos, quais as diferenças entre emoções e sentimentos e o mais importante: em que estado ficamos quando cada uma delas aparece. Em seguida, ponderamos ferramentas necessárias para boas relações interpessoais, dentre elas: respeito, resiliência e saber escutar.
Com esta vivência e ao conversar com colegas, chego à conclusão de que não desenvolvemos literacia no campo das relações interpessoais. Quase nenhum de nós aprendeu na escola ou mesmo na família sobre como lidar com nossas emoções e as dos outros, como comunicar-nos bem e como cuidar das nossas relações interpessoais. Sim, isto é grave. Mas que tal passarmos a encarar o assunto com um pouco mais de atenção e cuidado a partir de agora?
Thabata Telles
Psicóloga