Crianças Devem Ser Crianças

Crianças Devem Ser Crianças

No Brasil, um dos assuntos mais discutidos atualmente, logo depois da política, é a adultização das crianças. O tema divide opiniões, mas a minha posição é clara: sou contra. A infância deve ser preservada como um tempo de descobertas, brincadeiras e aprendizagens próprias dessa fase da vida, sem a pressão de assumir comportamentos, responsabilidades ou estímulos que pertencem ao universo adulto. Desde que me mudei para Portugal, um detalhe cultural me chamou especialmente a atenção: o funk dentro das escolas. O ritmo, que no Brasil carrega uma forte carga de polêmica e preconceito, muitas vezes associado à sexualização precoce e a letras de conteúdo explícito, aqui circula de forma mais natural, inclusive em contextos escolares. Para mim, foi um choque. Não por rejeitar o gênero musical em si, que tem raízes legítimas como expressão cultural, mas pela maneira como é apresentado às crianças, com coreografias e mensagens que ultrapassam a fronteira da inocência infantil.

Curiosamente, muitos brasileiros que migraram para cá com suas famílias buscavam justamente afastar os filhos dessa influência. Viagem após viagem, relato após relato, percebo que Portugal era visto por eles como um lugar em que as crianças poderiam viver plenamente a infância, livres dessa pressão para crescer antes do tempo. No entanto, deparam-se com uma realidade diferente da esperada.

A adultização precoce traz consequências profundas. Quando uma criança é exposta a linguagens, músicas e comportamentos que a projetam para uma vivência adulta, perde-se parte da espontaneidade própria dessa fase. É como se lhe fosse roubado um pedaço de tempo precioso, aquele em que brincar de esconde-esconde, desenhar com giz na calçada ou inventar histórias ainda deveria ser o centro das atenções.

Não se trata de defender uma infância alienada do mundo real, mas de compreender que cada etapa da vida tem o seu ritmo. Antecipar fases é, em grande medida, roubar experiências. E, quando pensamos em uma sociedade mais equilibrada e saudável, preservar a infância torna-se também um ato de responsabilidade coletiva.

Por isso, sigo acreditando que precisamos de mais diálogo sobre esse tema em Portugal. A pluralidade cultural é uma riqueza, mas não deve vir acompanhada da normalização da adultização precoce. Que nossas crianças possam crescer ao seu tempo, livres para serem simplesmente… crianças.

Por respeitar profundamente essa fase de construção da identidade, no Dia do Brasil em Braga, assim como em todas as ações que a Associação UAI promove, teremos atividades que valorizam a infância e resgatam músicas e brincadeiras compatíveis com cada idade.

Aproveite a ocasião e leve a sua família!

Alexandra Gomide

Presidente da Associação UAI
@alexandragomide

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