É Preciso Parar para Pensar: Um Alerta Sobre Como nos Concentramos Hoje

É Preciso Parar para Pensar: Um Alerta Sobre Como nos Concentramos Hoje


Nos últimos meses, reportagens no Brasil e em Portugal sobre a questão da atenção têm sido frequentes. Usualmente, o foco destas notícias centra-se na recorrente dificuldade em mantermo-nos concentrados em algo hoje em dia: não lemos como antes, interrompemos conversas a meio, esquecemo-nos de enviar mensagens e raramente sentamo-nos à frente da televisão sem realizar uma atividade paralela, para citar alguns exemplos.

Também, tais matérias alertam para o aumento de diagnósticos de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), com crescimento importante em indivíduos adultos. Se antes as crianças incomodavam por se movimentarem excessivamente, agora elas parecem estar quietinhas em frente aos ecrãs. Por outro lado, adultos sentem-se bombardeados pelo excesso de informações que temos hoje, com dificuldades em realizar bem as tarefas básicas do cotidiano – dentre elas, trabalhar. Os diagnósticos não acontecem por acaso e relacionam-se bastante com a cultura e a sociedade na qual vivemos.

Por conseguinte, salta-nos aos olhos a quantidade de pessoas que se autodiagnosticam através de publicações em redes sociais, muitas vezes por influenciadores que sequer são profissionais da área da saúde. Podemos juntar a isso a quantidade de posts e reels que são feitos com o assunto, dando-nos a falsa ideia de que se trata de um diagnóstico fácil e que os problemas acabam quando a sentença está dada. Algumas medicações e já está, mesmo que não se vá a qualquer profissional de saúde. Assim, não precisamos pensar sobre o que estamos fazendo com as nossas vidas e voltamos a produzir dentro do esperado pelo sistema.

Cientistas, escritores e filósofos alertam-nos para mudanças recentes em nosso cérebro, corpo e relações. Pensamos de modo cada vez mais superficial, menos detido e com menor capacidade de aprofundamento. Byung-Chan Han aborda a sociedade atual com o receio de que estejamos perdendo nossos aços com os acontecimentos da vida, com os outros e as coisas, em meio a informações avassaladoras e cada vez mais simples e padronizadas. Julián Fuks escreveu recentemente que estaríamos entrando em colapso mental.

A solução não é simples. Mas, certamente, o esforço para fazer uma coisa de cada vez pode valer a pena. Ouvir música, ler, escrever, dançar, caminhar. Sem nenhuma outra atividade paralela. É preciso, sobretudo, saber parar pra pensar

Thabata Telles
Psicóloga

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