Sylvia Patrícia

Sylvia Patrícia

O Olhar Brasileiro entrevistou uma baiana arretada, a cantora, compositora, instrumentista e produtora musical Sylvia Patrícia. Atualmente Sylvia tem 7 álbuns lançados no Brasil, um no Japão, além de uma coletânea na Itália- Sua música mistura bossa nova blues jazz e rock brasileiro. Recentemente, Sylvia esteve em turnê em Portugal

Sylvia, como foi que você se interessou pela música?

Eu ganhei um violão do meu pai quando tinha 8 anos de idade. Então, comecei a estudar violão popular e, com um pouco mais idade, entrei no conservatório de música clássica para estudar violão clássico. Depois, fiz vestibular para composição e regência, mas o que eu gostava mesmo era compor e tocar música popular. Como São Paulo é uma das capitais mais pulsantes do Brasil, eu me mudei para lá nos anos 80, onde continuei minha faculdade. Foi em São Paulo que eu comecei realmente a minha carreira. Lá eu fiz alguns shows e logo fui convidada para uma coletânea de Rock Brasil com a música Lady Pank

Qual foi a música que fez com que você deixasse de ser uma cantora conhecida apenas localmente e se tornasse cantora com alcance no cenário musical brasileiro?

No final dos anos 80, eu gravei uma versão de uma música do filme Fama “Is It Okay If I Call You Mine?” e eu mostrei esta gravação para um radialista baiano, que se apaixonou pela música e, mesmo sem disco, sem álbum, sem nada, ele colocou esta versão no ar. De repente, a música estava em primeiro lugar em várias capitais como Salvador, Belo Horizonte, Recife, Manaus e Porto Alegre. Isto tudo sem disco. A versão chama-se “Marca de Amor Não Sai” e é uma gravação muito crua, mas ocorreu num momento especial que estava acontecendo lá. Naquela época, estourou o Axé Music na Bahia. Surgiram Luiz Caldas, Sarajane, Banda Eva, etc e todo mundo com aquela música mais agitada, mais Carnaval e eu vinha com voz e violão. Então, era uma coisa diferente no rádio e isso chamou a atenção para a música. Com isso, acabei assinando com uma gravadora e foi assim que começou minha carreira fonográfica e nacional.

Você é uma baiana que cresceu em uma época em que o estado era sinônimo de Axé Music. Este seu gosto pelo Jazz, Blues e Pop Rock foi devido à sua formação acadêmica?

Na verdade, eu acho que isso a gente traz na alma. Não sei se talvez pelo fato de eu ser de uma família de professores que tinha uma coisa muito musical em casa. Meu avô era pianista, compositor e maestro, minha avó materna tocava bandolim e, então, talvez isso tenha feito eu ouvir muitas coisas e me influenciado.

Quem são os cantores que influenciaram a sua formação musical e como foi que você teve contato com seus trabalhos?

A grande influência surgiu por acaso. Uma vez acompanhei minha irmã a um show, pois meu pai não queria que ela fosse sozinha com o namorado. Eu devia ter 11 anos e era um dos primeiros shows de Tim Maia na Bahia. Ouvi-lo cantando Coronel Antônio Bento, Primavera , Azul da Cor do Mar… foi um momento muito marcante do meu gosto e da minha formação musical. Paralelo a isso, meu pai era louco por música. Foi a Londres e trouxe alguns discos. Tinha uma coletânea de rock inglês com Rod Stewart e outras bandas que eu não me recordo bem, só sei que eu fiquei louca por aquele som.

E como foi que você começou sua carreira internacional?

Eu tenho um grande amigo que tinha uma pousada, um hotel de charme no sul da Espanha, e ele me convidou para tocar no verão. Eu fiquei um pouco preocupada, pois eu não falo espanhol direito. Mesmo com muito medo e insegura, eu aceitei o convite. Eu ia tocar três vezes por semana e ia revezar com um artista inglês. No entanto, ele não conseguiu sair da Inglaterra. Então, eu toquei todas as noites e acabei ganhando uma tendinite no ombro. No ano seguinte eu retornei para a Espanha e aí eu vim para Portugal. Uma gravadora daqui lançou uma versão remix de uma música minha “Não Quero Saber Seu Nome”, que saiu em umas 3 ou 4 coletâneas de World Music. Depois, toquei em vários festivais em Barcelona e comecei a me apresentar em outros lugares, como Amsterdã, Milão e até na Tailândia.

É verdade que você tem origem portuguesa?

Sim, da cidade de Valença. Os meus antepassados vieram dessa região e, ao imigrarem para o Brasil, adotaram o nome da cidade. Um português chamado José Rodrigues da Cunha foi para Pernambuco e lá adotou o nome Valença. Os Valença são muito musicais, tanto que sou prima do Alceu Valença, que também é descendente deste José Cunha.

E esta musicalidade da família nunca foi exclusividade dos homens…

Verdade, a mãe do meu pai formou um dos grupos pioneiros de mulheres instrumentistas do nordeste. Eram oito primas e isso em uma época de muito machismo na região.

Você esteve se apresentando em Portugal. Como foi a receptividade do público português?

Melhor impossível. Os portugueses gostam muito da musicalidade brasileira. Eles realmente se interessam pela música e pelos artistas brasileiros. Eu fiquei emocionada numa entrevista que eu dei para o Correio da Manhã. A apresentadora foi super carinhosa e ela, inclusive, insistiu que fosse a Viana do Castelo para conhecer a região de meus antepassados.

E como está este seu novo trabalho, “Existe Amor em SP”?

Em 2019, eu estava na Espanha me apresentando e fiz uma música com um amigo meu brasileiro que mora lá há muitos anos, o Danilo Pinheiro. A gente fez uma canção e eu ia lançar. Quando veio a pandemia, eu tive que ficar parada em casa. Fiquei 4 anos sem viajar, sem botar o pé na estrada. Como eu tenho um estúdio em casa, eu ficava ali tocando, estudando e gravando. Como o Danilo estava em Barcelona e eu em Salvador, a gente foi fazendo música juntos, mas distantes. Finalmente, produzimos esse disco que se chama “Existe Amor em SP”. No caso SP não é São Paulo, e sim Sylvia Patrícia, porque minha mãe e meus amigos mais próximos me chamam de SP. Então, eu brinquei com isso e, como tem uma música do Criolo que se chama “Não Existe Amor em SP (São Paulo)”, eu pensei: vou brincar com esse título. São cinco músicas: uma parceria com o Paulinho Boca de Cantor, que é uma música minha, dele e com mais dois parceiros, que eu nunca tinha gravado; uma música minha com Nico Rezende e mais três canções minhas que são: “Vinho e Terroir”, “C’est La Vie” e “Beat Chic”. “Beat Chic” é uma parceria com a compositora baiana Monica Millet que teve o clipe exibido no salão de artes de Portugal que aconteceu na Galeria Galleryspt.

Ouça a entrevista completa no nosso podcast do programa Olhar de Lá e de Cá em www.radio.olharbrasileiro.pt

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