Ivete Sangalo
Sua turnê em terras lusitanas, produzida pela Vibes & Beats, contou também com as participações de Gustavo Mioto e Ana Castella. Ivete nos conta um pouco do início de sua carreira, da banda Eva e dos ônus e bônus de sua vida artística.
Você veio de uma família musical e teve uma infância que não foi fácil. Como é que este período de sua vida e a influência de sua família contribuíram para que você se tornasse esta mulher poderosa que é hoje?
Eu venho de uma família musical, sim. Na minha casa a gente cantava sempre. Às vezes antes do almoço, às vezes depois do jantar e muitas vezes nos finais de semana. Tinha sempre muita música e muita celebração na minha casa. Sem dúvida nenhuma, esse conteúdo musical veio desses encontros e veio também do interesse e do gosto pela música dos meus pais. Então, isso me tornou uma cantora e eu não tenho a menor dúvida disso.
Eu sou uma pessoa que adora música e isso eu devo muito aos meus pais. Essa fomentação musical diária dentro de casa ajudou a construir, sem dúvida nenhuma, a artista que eu sou hoje.
Quais foram as principais dificuldades que você vivenciou ao longo da sua carreira?
Na verdade, eu sou uma mulher de muita sorte. As maiores dificuldades dessa minha vivência como cantora, não foram as dificuldades do ponto de vista profissional, operacional, etc. Foi muito a falta que eu senti de casa, da minha mãe, das minhas rotinas com os meus amigos, etc. Eu passei uns bons 15 anos sem comemorar aniversário em casa, sem passar o réveillon com a família, além das datas de aniversário de amigos. Enfim, esses festejos que eu tinha na minha rotina, eles não eram mais possíveis, então, eu perdi um pouco a relação de convívio com os amigos e a família por conta da agenda atribulada, mas eu estava sempre muito feliz por conta das oportunidades que estavam surgindo. Sempre aparecia um probleminha aqui, outro acolá, mas nada com que eu não pudesse lidar. Era mais a saudade de casa, de minha mãe e dos meus irmãos com quem eu tinha um convívio muito intenso.
Quando você começou, você já sonhava em ser uma grande estrela ou queria apenas fazer o que gostava?
Quando comecei a cantar, primeiro eu vi na cantoria uma oportunidade de trabalhar, porque na época em que comecei a cantar, foi uma necessidade de trabalhar. Eu precisava trabalhar com alguma coisa, pois passávamos algumas dificuldades financeiras em casa e eu vi o canto como uma oportunidade. Entretanto, na minha cabeça eu já era cantora, eu não queria ser cantora, porque eu já era uma cantora. Agora, cantora de sucesso definitivamente não passava pela minha cabeça. Na verdade, eu nem pensava sobre isso. Então, quando eu estava neste processo, começou a Banda Eva e eu percebi que naquele caminho ali já existiam os meus fãs. Eu acho que o grande presente da vida de todo artista é o fã. A partir daí, comecei a ter uma relação com o meu trabalho de muito prazer, de muita afeição e de muita responsabilidade. E quando eu pensei que não, eu já era uma cantora reconhecida. Aos poucos eu fui entendendo o que era ser uma cantora de sucesso, com uma carreira de sucesso e isso foi um presente na minha vida.
Nestes 30 anos de carreira você já conquistou praticamente tudo que um artista pode sonhar. Ganhou o Grammy Latino por 4 vezes, incontáveis prêmios, vendeu milhões álbuns, dividiu o palco com grandes estrelas nacionais e internacionais. Qual é o seu segredo para manter a motivação e esta energia contagiante?
A minha grande motivação é aquilo que eu já falei, é a minha música. Eu gosto demais de fazer o que eu faço, faz parte de uma sobrevivência emocional, a música e os shows. Eu tenho uma turma que corrobora disso comigo, que vive isso comigo. Eu acho que a minha grande motivação são os meus fãs e a própria música. É uma coisa simbiótica mesmo, os fãs, a música, a carreira, a história… É conhecer gente, estar perto de muita gente, isso sempre foi uma coisa muito positiva e muito gostosa. Eu sou uma mulher cheia de energia e gosto demais do que faço, então quanto mais eu faço mais feliz eu fico. Você tomou uma decisão corajosa, mas muito arriscada.
Como foi o desafio de sair da Banda Eva, que era um sucesso, para a carreira solo?
Esse foi um grande desafio que eu encarei na minha vida, mas eu estava tão focada e eu queria tanto realizar o meu trabalho da minha maneira, fazer os meus discos da minha maneira e fazer o meu som.
Eu tinha aprendido muito com a Banda Eva, que é uma banda da qual eu tenho uma gratidão imensa. Eu fui muito feliz nos 6 anos que cantei na Banda Eva, inclusive conheci Portugal na Banda Eva e foi uma experiência sensacional que eu tive. Então, logo que eu saí da banda, eu estava convicta do que eu queria e, por isso, não chegou a ser um problema.
Foi sim, um desafio pois eu estava saindo de um lugar onde estava ganhando o jogo, onde tudo dava certo, para uma nova empreitada. Mas eu estava tão firme no meu propósito, que eu sabia que eu ia aplicar na minha carreira solo, toda a energia que eu tinha aplicado na minha vida durante Banda Eva. Então, foi um caminho muito tranquilo, muito especial e uma tomada de decisão muito segura, muito clara.
Como você consegue conciliar a carreira artística com sua vida pessoal?
Na verdade, a gente não consegue conciliar, não. A gente tenta conciliar. Eu acho que é uma tentativa diária, mas não só minha. Eu acho que é um desafio de todas as mulheres. As mulheres buscam girar todos os pratos como a gente fala. Ou seja, a gente se vira como mãe, como profissional, como esposa… Às vezes a gente cobre a cabeça e o pé fica pra fora, às vezes a gente cobre os pés e a cabeça fica pra fora e essa equalização é o grande mistério da vida pra todo mundo. O importante é que no saldo final, dá pra todo mundo ser feliz. Todo mundo consegue fazer a sua parte e eu vou me virando aqui do jeito que dá.
Eu sou muito feliz, sou uma mãe muito especial para os meus filhos, sou uma cantora especial para os meus fãs, sou uma esposa maravilhosa… eu sou incrível [risos]. Brincadeiras à parte, a gente vai girando os pratinhos de acordo com o ritmo e tem que ser assim.
Qual é a grande diferença para você, entre uma apresentação em um trio elétrico no carnaval de Salvador para um show em um palco?
Na verdade, eu não posso estabelecer nenhuma diferença, porque cada apresentação é muito particular. O palco tem aquele conteúdo, conta uma história. A gente no palco tem a possibilidade de um cenário, tem a possibilidade de contar uma história e fazer um roteiro que é aquele espetáculo de 2 horas bem contado, bem amarrado. Já o trio elétrico tem uma coisa especial, que é você não ter aquele cenário fixo e você não contar uma história tão fidedigna ao que você está se propondo. No entanto, o trio tem o improviso, tem o cenário natural e tem aquela coisa de andar pela rua. Mas o pano de fundo é a própria cidade e o público. Então, eu acho que cada cantinho é especial. Eu gosto de cantar tanto no trio elétrico quanto no palco. Cada um tem uma particularidade, tem uma força e é muito bom.
Ouça a entrevista completa no nosso podcast do programa Olhar de Lá e de Cá em www.radio.olharbrasileiro.pt