O Amor não é Cego!
Provavelmente você já escutou esta frase: “o amor é cego”. Vivemos em uma sociedade do espetáculo, em que há uma primazia pela aparência, esta realidade pode gerar duas confusões possíveis. A primeira é a de que a imagem seduz e pode entorpecer a razão, levando as pessoas a fazerem más escolhas, baseadas apenas no critério da beleza estética. Logo, a consequência deste fenômeno são relacionamentos frustrados e vazios, que terminam ao perceberem que na vida concreta a dois, no fim, a aparência pouco importava. A segunda confusão possível é o desdobramento desta primeira, as pessoas então, com medo de serem “enganadas” pela aparência, começam a acreditar que só encontrarão o amor verdadeiro se excluírem a imagem, ou, se tentarem adiar o elemento do conhecimento visual, em um ideal de conhecer a “pessoa” primeiro.
A solução então parece ser, conhecer o outro apenas pela sua voz, ou seja, através do diálogo, em troca de mensagens ou ligação. Este fenómeno pode ser facilmente confirmado, pela audiência do reallity show “Casamento às cegas”, com a versão: norte-americana, francesa e brasileira. Este se trata de homens e mulheres que querem se casar, mas frustrados com desilusões amorosas, se propõem a se conhecerem, mas sem poderem se ver. Um ouve a voz do outro, mas isso é tudo. A questão é: será que o amor é cego a ponto de duas pessoas se apaixonarem apenas pela voz?
Este fenómeno é uma tentativa de conhecer o outro em sua “interioridade” e assim, verificar se é possível acontecer o amor às cegas. Novamente os enamorados caem em outra forma de ilusão, a ideia de que, agora sim, encontraram um grande amor, alguém que lhe escolhe por aquilo que tu és. Grande engano, pois aquilo que tu és, não é um fragmento de ti. Sua pessoa também engloba toda a sua circunstância. Já dizia o filósofo Aristóteles: “Nada está no intelecto sem antes ter passado pelos sentidos”, tão eloquente a ideia de amar alguém excluindo o elemento estético fundamental para o conhecimento do outro, a sua imagem pessoal. Como escolher alguém para casar destacado do seu próprio contexto de vida, de sua história e de cada traço do seu rosto, que tornam o ser amado, quem ele é?
As pessoas parecem querer abdicar de sua própria capacidade intelectual de discernir de forma madura, o cônjuge para a sua vida. Querem se ausentar da capacidade de conhecer e contemplar uma pessoa abarcando tudo o que ela é. A tentativa de tentar antecipar e assim fazer a escolha certa, controlando variáveis, parece obscurecer a inteligência. Não se trata de excluir a imagem, para poder conhecer a personalidade do outro e não se trata de deixar-se ser guiado pela aparência que brilha e seduz os sentidos.
Não se pode amar sem conhecer o outro. Eu não amo aquilo que eu não conheço, no máximo, eu farei uma escolha por projeção das minhas próprias expectativas. O que se comprova hoje, com tantos divórcios, após poucos anos de vida a dois, a desilusão parece ser insuperável. No fundo o homem e a mulher estão com olhos vendados, porque eles mesmos não conseguem ter critérios claros que os orientem na escolha do amado. Confundem facilmente o desejo com amor, atração com paixão, amizade com namoro, uso com amar, descartável com eterno. Sem critérios e conceitos claros que iluminem a inteligência e orientem, os sentidos em escolher alguém para a vida toda, não é possível viver um amor verdadeiro.
É preciso estar de olhos abertos, bem atentos, é preciso querer olhar para o outro, para abraçá-lo em sua totalidade. O Eu do outro se expressa não somente naquilo que ele traduz verbalmente, mas em cada ato dentro de situações concretas, em cada expressão facial, no seu trabalho, em seus hábitos, em sua história. Não se ama, ou conhece alguém, excluindo tudo aquilo que torna ele quem ele é. Por isso no amor é preciso enxergar!
Luiza Orlandi
Psicóloga Clínica