Os Jovens e a Saúde Mental em Portugal

Os Jovens e a Saúde Mental em Portugal

Não exista quem não tenha sofrido um sacolejo nos últimos dois anos. E sobretudo quem não tenha se sentido abalado mentalmente. Mesmo quem nunca havia pensado em saúde mental passou a se preocupar com o assunto.

Ao mesmo tempo que a pandemia interrompeu serviços essenciais de saúde mental em mais de 93% dos países do mundo, também intensificou a busca por esses serviços (Dados da Organização Mundial da Saúde – OMS).

As famílias sofreram um manejo em suas casas, quando a escola adentrou os lares e também as empresas, através do home school, home work ou home office.

Algumas pesquisas recentes já demonstram que levarão décadas para resgatar os prejuízos causados nesta pandemia, sobretudo no que tange à educação de crianças e jovens, no aspecto cognitivo. É esse nosso assunto desse artigo, aproveitando que mês de janeiro, no Brasil, sobretudo, faz-se o Janeiro Branco, uma campanha de conscientização da Saúde Mental. E já que estamos em Portugal, por que não estender para cá também essa campanha? Afinal, falar desse assunto nunca é demais.

Uma reportagem da CNN Portugal trouxe dados assustadores sobre o assunto. Em uma chamada impactante “Ansiedade, depressão e até pensamentos suicidas. Como a saúde mental de toda uma geração está a ficar arruinada”

suscitou ainda mais a preocupação com a imensa demanda de jovens entre 15 e 34 anos que vivem presos à ansiedade, ao stress, e à pressão. Diversos são os fatores que levam os jovens a viverem essas sensações e desesperanças, como, por exemplo, a falta de perspectivas frente ao mercado de trabalho, as desilusões sofridas nos últimos anos de estudos (secundário e universitário), o medo da precariedade e da inexistência de um futuro promissor, além de excessivo tempo em redes sociais e todas as complicações que o uso exagerado das telas causa às pessoas.

Ainda, segundo os dados da CNN, quase um quarto dos portugueses entre os 15 e os 34 anos já pensou ou tentou suicidar-se e 26% já tomou medicamentos para a ansiedade. Os especialistas ressaltam que este deve realmente ser um tema a se conversar em 2022.

Apesar de tantos indícios e do tema estar nas mídias, a procura por um especialista, embora tenha aumentado significativamente, ainda costuma ser substituída por álcool, drogas, relações tóxicas como formas de anestesiar certas dores.

O que muito pode ser também evitado e sabe por que? Porque precisamos conversar a respeito com os jovens. E esses jovens são filhos e filhas, sobrinhos, amigos dos nossos filhos, vizinhos, que fazem parte da mesma sociedade que os invisibiliza, afinal eles estão “grudados nas telas”…

Falar de saúde mental deve ser um assunto conversado em bom tom, para quebrar os tabus e preconceitos, pois o tema trás preocupações em todo o mundo.  

Pesquisa da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) que mostra o retrato dos jovens de Portugal retrata que os jovens precisam de muita atenção, pois 12% dos jovens entre os 15 e os 34 anos já auto infligiram lesões corporais, 5% sofreram de transtornos alimentares e mais de metade está insatisfeito com o próprio corpo, 30% já tomaram medicamentos para o sono e 26% já tomaram medicamentos para a ansiedade e depressão.

O retrato dos jovens e suas questões, levantadas pela pesquisa da FFMS é a mesma que vejo nas minhas sessões com esse público-alvo, em que demonstram suas inseguranças com o futuro, uma espécie de pressão para ter bom desempenho escolar desde tenra idade, e estão sempre a pensar o que os outros vão pensar dos seus erros e fracassos (que deveriam representar apenas oportunidades de aprendizados de vida). Preocupam-se também com o que os pais vão pensar, o que os amigos vão pensar, o que o mundo vai pensar. Dados de uma pesquisa realizada pela rede social Instagram corrobora com a citada acima, onde os jovens demonstram insatisfação com o corpo; isso denota a percepção desses jovens quando lidam com o mundo perfeito de influencer’s, corpos perfeitos, viagens perfeitas, roupas perfeitas, etc., o mundo ilusório e inexistente que abala a autoestima e a percepção de desempenho e autoeficácia desses jovens. Segundo a pesquisa da rede social citada as meninas tem a sentir mais problemas de autoestima que os meninos, realçando que o maior tempo de rede social é das meninas e o de jogos é dos meninos.

Ainda aos 14 e 15 anos, os jovens que vão para o 10º. ano já enfrentam dificuldades em lidar com a escolha do curso que vão fazer.  e o que fazer e muitas vezes fazem escolhas que não são suas para agradar aos pais ou outras pessoas, e isso os faz infelizes.

Na juventude alguns gatilhos para uma saúde mental frágil e precária podem ser experienciados, o que impacta e culmina na falta de usufruir de uma vida baseada na autonomia, no bem estar e qualidade de vida.

Retrato da pesquisa FFMS e também dos dados e histórias que vislumbro em minhas sessões esses jovens não percebem quem são, não sabem o que os desafia, limitam seus objetivos e sonhos a favor da aprovação dos outros e sobretudo, apresentam imensas dificuldades quando trabalhamos o autoconhecimento.

Contudo, atenho-me aqui à problemática da saúde mental.

É preciso aprofundar nas relações e saber mais do que “como foi seu dia” ou “como foi a escola hoje”. É preciso olhar nos olhos e perguntar a todo momento se “está tudo bem” e não aceitar apenas um “sim, está tudo”.

É preciso quebrar a barreira do “está tudo”… e questionar “tudo o que”, tudo “como”, tudo “por que” e tudo “quando”.

É imprescindível acolher quando nem tudo está bem, é assim que rompemos a cultura de que a saúde mental tem a ver com loucura, e expressamos que saúde mental tem a ver com: “se não estiver tudo bem, está tudo bem” e podemos buscar ajuda.

Enfim, que cobranças e bom desempenho pode ter alguém que não está bem e que se sente cobrado sem conseguir se desenvolver?

Perguntei a uma cliente de 14 anos qual a estratégia os pais poderiam utilizar para saber se o filho está bem ou não. Ela respondeu que os pais devem sair das perguntas automáticas, pois perguntas automáticas geram respostam automáticas e geralmente eles não estão preparados para saber se algo não está bem. Então os pais deveriam perguntar mais sobre as emoções que nós vivemos no nosso dia e focar em nos auxiliar em como lidamos com nossos problemas.

Entenderam?

Karina Campos
Psicóloga do Trabalho e da Educação 
Coach de Carreira e Teen Coach 
@karinacampos.psi 

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