Jota Quest

Jota Quest

A gente não trabalha para ganhar prêmio. Nosso maior prêmio são nossas músicas ficarem para sempre.

Com uma energia contagiante em palco, atualmente o JOTA QUEST, Banda brasileira formada nos anos 90, na efervescente cena pop de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais  é uma das mais aclamadas bandas do pop-rock brasileiro com uma legião de fans em Portugal.  Após adiamento de show em Lisboa em 2021, a banda Jota Quest finalmente, retorna a Portugal em 2022 com o tour “Jota Quest – 25 anos” com shows em 30 de janeiro no Campo Pequeno, em Lisboa, e, no dia seguinte, 31 de janeiro, sobe ao palco do Altice Fórum Braga. O Olhar Brasileiro conversou com exclusividade com o baixista do Jota Quest, Paulo Roberto Diniz Junior, mais conhecido no meio musical como PJ.

O Jota Quest nasceu em Belo Horizonte em uma época que o Rock mineiro não tinha muita expressão. A música mineira era muito ligada ao movimento do clube da esquina e à musica caipira de raiz. Como foi este início em que vocês desbravaram junto com Skank, Tiananastácia, Virna Lisi e Pato Fu, um mercado que era até então território dominado por bandas internacionais e de outros estados?

A música mineira foi muito marcada pelo Clube da Esquina com Beto Guedes, Lô Borges e Milton Nascimento. É uma música de reconhecimento internacional. O disco Clube da Esquina está em todas as listas dos discos mais importantes da história. No final dos anos 80, eu montei o Jota Quest com o Paulinho, depois com o Marco Túlio, o Márcio e o Rogério. No início dos anos 90, o Skank estava começando a fazer sucesso local e estadual. O Skank foi contratado pela Sony e virou um fenômeno Nacional. Então, as gravadoras voltaram os olhos para BH e descobriram o Jota Quest, o Pato Fu, o Virna Lisi e o Tianastácia. O interessante é que em Minas Gerais, e em Belo Horizonte no caso, não estavam todos fazendo o mesmo som. Geralmente quando se descobre uma cena, como por exemplo, a cena do movimento da música grunge em Seattle ou em Brasília com o com Legião Urbana, o Plebe Rude e o Capital Inicial, o som era mais ou menos do mesmo tipo, mas em BH, não. Tinha o Skank que é uma banda pop baseada no reggae, o Jota Quest que é uma banda pop baseada no funk rock, o Pato Fu baseada num pop mais alternativo e o Tianastácia que é uma banda pop baseada mais no punk.

E tinha ainda o Sepultura com o som pesado do heavy metal.

O Sepultura vem um pouco antes. Havia um movimento quase que separado. A cena de heavy metal de BH ficou muito forte um pouco antes., Talvez uns 6 anos antes desta cena do Rock. O Sepultura para mim é o maior artista brasileiro de todos os tempos, tirando Carmem Miranda. Uma coisa é você fazer show fora do Brasil nos Estados Unidos. Isto, todo mundo faz. O Sepultura fazia no seu auge e faz até hoje, show para americano. Noventa por cento das bandas brasileiras quando vão para os Estados Unidos, tocam para os brasileiros. A barreira da língua é muito grande. Os Estados Unidos são muito corporativistas. Eles não querem ouvir ninguém tocar em português, indiano, espanhol… Talvez em espanhol, porque a colônia espanhola lá é muito grande, mas o Sepultura teve esse feito. Pena que os irmãos Cavalera saíram, o que talvez a tenha enfraquecido um pouco, Mas BH tinha essa diversidade e começa a entrar na cena do rock nacional. Então, o estado de Minas Gerais passa a ser conhecido musicalmente não só pelo Clube da Esquina mas também pelo seu rock.

Vocês estão comemorando 25 anos de sucesso e quase trinta de estrada juntos e ainda assim continuam tocando com a mesma energia. Como conseguiram esta façanha?

Tem gente que acha que é talento. Eu não posso falar que é talento porque seria muita soberba. Sorte? Não foi só sorte. Quem indica? Não adianta indicação se você não tiver substância. Estamos aqui até hoje por causa de uma coisa chamada trabalho. Quando se foca no que se quer, quando você dá o seu tempo para algo como prioridade na vida, você automaticamente sai dos 95% das pessoas normais da sua área e entra nos 5% das pessoas especiais. Quando você entra nos 5%, então pode ser que venha a sorte, o quem indica… Aí é que vem Deus, porque Deus também não vai ajudar a não quer. Eu acho que a única sorte que eu dei na minha vida, foi que tive quatro bons sócios, o resto foi trabalho.

Entrevista exclusiva com o vocalista Rogério Flausino em Braga, Portugal

A rotina de uma banda de rock causa um desgaste natural no relacionamento dos integrantes, o que acaba levando ao fim de muitas bandas. Vocês se encontram quando não estão trabalhando ou mantêm um distanciamento “saudável”?

Nós andávamos muito juntos enquanto não éramos casados. Nós cinco éramos grudados, saíamos juntos, tocávamos juntos… Hoje cada um tem a sua família, tem seus filhos, então você não tem nem mais tempo para conviver. Mas passamos bastante tempo juntos. Entretanto, eu acho que é saudável sim, às vezes, manter uma distância, porque você preserva. Claro que ocorre o desgaste emocional e psicológico de estar o tempo inteiro junto. Saber administrar isso, principalmente respeitando os outros, também é um dos segredos.

A banda surgiu como J. Quest por causa do desenho animado. A ideia do nome foi sua, mas dizem que você nem era fâ do desenho da Hanna Barbera. De onde surgiu a inspiração para o nome?

Realmente este nome fui eu que dei. Não é que não fôssemos fãs. Foi um desenho que marcou as nossas infâncias. Quem teve a infância e a adolescência na década de 70, 80 vai lembrar do Johnny Quest. Era um desenho legal porque fugia dos padrões. Ele era meio ficção científica, não era coisa de criancinha. E não foi uma homenagem. Foi uma coisa de momento. Marcamos um show, não tínhamos nome para a banda e precisávamos de um, aí falei: “Põe J Quest”. Na hora soou bem, mas depois que lançamos o primeiro disco, o nome ficou muito “inglês”. A gente já estava pensando em mudar para Jota Quest, quando recebemos uma intimação extrajudicial da Hanna Barbera pedindo para não usarmos um nome que remetia ao desenho deles. Como já queríamos trocar o nome, resolvemos mudar para Jota Quest. Mal sabiam eles que no Brasil a banda ia ficar muito maior que o nome do desenho.

Nestes anos de existência do Jota Quest, o cenário musical no Brasil mudou bastante. Há aqueles que acreditam que a MPB já não produz com a criatividade e diversidade de antes ou pelo menos os que o fazem, não conseguem projeção na grande mídia. O que se promove hoje é quase sempre mais do mesmo. Você também pensa assim?

Eu posso falar pelo meu segmento de música pop. O Rock nunca foi um gênero brasileiro, apesar de estar com o DNA entranhado em várias coisas. A guitarra está na MPB, no Sertanejo, em tudo. A guitarra é um elemento do Rock, então o Rock é o pai e influencia tudo, até mesmo indiretamente. Veja o visual dos sertanejos hoje. Eles têm um visual Rock and roll. Eles usam barba, camisa preta, calça preta, tatuagem… Poucos ainda vestem camisa xadrez para dentro da calça, fivela, bota e chapéu. Ainda existem, mas são poucos. Veja que o sertanejo, que é o gênero mais ouvido no Brasil, pegou os elementos visuais e de comportamento do Rock. E até musicais, porque a guitarra não é do sertanejo. Hoje tem solo de guitarra no sertanejo com distorção e tudo. O sertanejo sempre foi um estilo muito ouvido no Brasil e não tem como competir com ele. A partir do momento que ele virou um business muito forte, com muita grana por trás, ficou mais difícil ainda competir. Veja que no meio sertanejo existem até investidores externos, coisa que nunca se viu no Rock, no samba ou em qualquer outro estilo no Brasil. Mas não podemos ficar reclamando da vida. Temos é que trabalhar. O Rock sempre foi isso, sempre foi contestador com umas letras mais profundas. Todos querem ouvir uma música com letra legal. Sempre foi assim e sempre será e a gente não está aqui até hoje? A gente passou pela onda do DJ, do pagode, do axé, do samba e estamos aqui até hoje e vamos continuar porque quando a música é boa ela fica.

Na opinião de vocês, o surgimento das novas tecnologias e das plataformas digitais foram mais positivas ou mais negativas para os músicos em geral?

Eu tenho uma teoria de que a tecnologia, por enquanto, só serve para centralizar poder e riqueza. Esta conversa de que a tecnologia é para todos não é verdade. A tecnologia é para quem tem dinheiro e não é todo mundo que pode comprar um iPhone ou pagar internet. Existem os monopólios como o do YouTube, do Facebook, da Apple, do Vale do Silício… Na verdade, a tecnologia vende uma coisa, mas no fundo está demonstrando ser outra. O mesmo acontece com a música. Eu acho que está centralizando demais outra vez. Antigamente a banda dividia com a gravadora. Hoje em dia tem que dividir com a gravadora, com o Youtube, com o Spotify, com o Facebook, com todo mundo. E estamos sempre no fim da cadeia. Nós somos o principal produto das plataformas, mas a gente é o que sabe menos, o que recebe menos e o que detém menos poder. A gente não sabe o que acontece, não sabe como que é cobrado, não sabe quantas vezes tocou, então que tecnologia que é esta? É uma tecnologia para poucos. Para fortalecer um grupo e te deixar ainda mais de mãos atadas. Então, não sei se a tecnologia ajudou não. Podem até dizer que é mais fácil uma pessoa hoje colocar música no YouTube e estourar. Pode até ser, mas antigamente também era, só que de outra maneira.

Como você e o Jota Quest vêem o futuro do Rock e da música em geral no Brasil?

O Brasil é um país altamente musical. A cultura da música do Brasil é sempre promissora. Basta ver que o consumo de música no Spotify e nas plataformas digitais aumentam de 5 a 10% ao ano. Porque realmente é mais fácil se ouvir música. Para o consumidor final, a tecnologia foi ótima. Eu ponho em dúvida, é se a tecnologia foi ótima para os artistas. Por enquanto, eu não vi nenhuma vantagem, pois não temos o poder,. Não decidimos o que vamos fazer. Nós estamos na mão de todo mundo. Antigamente tínhamos que saber o que é que a gravadora estava fazendo. Hoje temos que saber o que é que o Facebook está fazendo, o que é que o Spotify está fazendo. o que é que o Instagram está fazendo e isto se tornou vários baús de mistério para a gente.

Nós sabemos que música é igual a filho, não existe uma favorita. Entretanto, sempre tem aquela que a gente tem mais afinidade. Qual é a música que você ou o Jota Quest sentem mais prazer, aquela que dá mais vontade de tocar?

Eu posso falar por mim, mas qualquer música que a gente canta junto não tem como achar ruim. Quando se tem uma carreira de tanto tempo com vários hits, todas músicas as que estão ali, gostamos de tocar. Se elas estão ali e fizeram sucesso mais do que outras, é porque elas têm uma sinergia melhor, elas têm uma mensagem melhor, alguma coisa melhor, então isso é um prazer muito grande. Agora, cada um da banda tem um gosto pessoal. Todas as músicas que tocamos ao vivo, estamos a fim de tocar. Elas têm uma energia boa.

São 2 Grammys latinos, como Melhor Álbum Pop Contemporâneo Brasileiro em 2011, e Melhor Álbum de Rock Brasileiro em 2013, prêmio de melhor Videoclipe de Pop com “O Sol” no MTV Video Music Brasil em 2006, dois prêmios Multishow de melhor DVD: “MTV ao Vivo” em 2004 e melhor Música: “Blecaute” em 2016, três premiações como Melhores do Ano com Amor Maior em 2003 como melhor Música de Novela , Melhor Grupo em 2004 e , Melhor Banda em 2007, isto fora as dezenas de indicações. Depois de tanto reconhecimento e tanto sucesso, ainda tem espaço para mais?

Eu quero mais… Mas a gente não trabalha para ganhar prêmio. Nosso maior prêmio são nossas músicas ficarem para sempre. Eu não quero desmerecer os prêmios, mas os prêmios na maioria das vezes são eleitos por algumas pessoas. Quando a música faz sucesso, são milhões de pessoas que elegem.

Ou seja, a realização que conta mesmo é o reconhecimento do público, não é verdade?

É total. Quando recebemos esse calor do público, sentimos que o trabalho está sendo reconhecido, independente do país. A vontade que a gente tem de tocar, pode ser em Braga, em Lisboa, em Miami, pode ser na minha terra em Curvelo, na terra do Rogério em Alfenas, em Belo Horizonte ou em São Paulo, a vontade é a mesma. Agora, o sentimento fica um pouco diferente quando você imagina que têm pessoas que estão longe de casa há muitos anos e então fica aquela coisa de manter um contato. Várias músicas nossas, eu tenho certeza, fazem parte das vidas das pessoas. Sempre vai ter alguém que na hora ouve por exemplo, Amor Maior, lembram, nossa essa música eu estava não sei onde no Brasil, na hora que ouve Mais Uma Vez, sentem, essa música eu… Isso é bom. Não é um sentimento nostálgico. A música está muito ligada a momentos bons da vida. A música é uma coisa que serve para superar momentos ruins e curtir momentos bons, então é difícil você ouvir uma música e dizer, não quero ouvir esta música porque nessa música eu estava de tal jeito. Ninguém fala isso. O que todo mundo fala é que tal música salvou minha vida, foi com essa música que eu me casei, essa música aqui minha mãe gostava ou era essa música que minha irmã gostava. Então, música é isso. Música é bom demais.

Vocês tocaram na abertura do Rock in Rio Lisboa dividindo o palco com Carlos Santana e Roger Waters. Depois de tanto sucesso e experiência, para vocês tocar com estas lendas mexe com o emocional, a vibe é outra, ou já não faz tanta diferença?

Eu acho que faz mais diferença ser o Rock in Rio, sabe. Eu gosto das bandas, mas para mim, a música nacional é tão boa quanto a música internacional. Devemos reverenciar sim, eu sou fã do Pink Floyd, do Roger Waters, do Carlos Santana, mas na minha terra tem Skank, tem Caetano Veloso, tem Gilberto Gil, tem Carlinhos Brown, tem o Milton Nascimento que são tão bons quanto. A indústria musical é focada no inglês. Tem algumas coisas da música Latina hoje, mas quem fez história na música internacional, de uma maneira geral, foram os cantores americanos e ingleses ou aqueles que cantavam em inglês. Se eu te perguntar de alguma banda do México, você provavelmente não deve conhecer nenhuma, se eu te perguntar de uma banda da França você não deve saber nenhuma. A França tem o Roberto Carlos deles, o México tem seu o Roberto Carlos, na Alemanha tem o Roberto Carlos deles… Mas é uma coisa local, nacional. Não vira uma coisa internacional por causa da língua. A gente não está com o ouvido acostumado a ouvir uma música em alemão. Até em espanhol, às vezes, é difícil para nós que somos brasileiros. Pode ser que o italiano seja a língua que a gente se dê melhor e um pouco de espanhol também. Mas no geral, é isso. Aqui tem coisa boa demais, então quando eu vou dividir o palco com essa galera aí, eu respeito, acho um barato, sou fã, mas eu teria a mesma emoção com Milton, com Caetano, com Skank, com o Barão Vermelho, etc.

Vocês tiveram o show em Portugal adiado no final do ano passado. De certa forma foi até bom, afinal agora incluíram Braga na agenda. Braga tem uma expressiva comunidade brasileira e conta com a segunda maior casa de shows de Portugal. O show de vocês aqui já está quase esgotado. Será a primeira vez que tocarão em Braga, como está a expectativa?

Eu fiquei muito feliz em saber que Braga tem uma grade comunidade brasileira, e é um dos lugares que tem mais brasileiros em Portugal. Eu acho que vai ser demais, a emoção vai ser total, tenho certeza que muita gente vai lembrar de muita coisa boa ao escutar nossas músicas.

Você quer deixar um recado para seus fãs de Portugal e em especial os da região norte?

Quero dizer ao público do Olhar Brasileiro que vai ser um show muito legal com um resumo de nossa carreira. Vamos dar tudo o que podemos dar. Que este show simbolize um recomeço para tudo o que a gente passou nestes últimos dois anos. Eu sei que foi muito difícil para algumas pessoas, outras já tiveram maior facilidade, mas no geral será um show que simboliza um recomeço, um recomeço para nós, para todos e que este mundo seja um mundo melhor. Dias Melhores para sempre.

Ouça a entrevista completa no nosso podcast do programa Olhar de Lá e de Cá em www.radio.olharbrasileiro.pt

Imagens da apresentação da Banda Jota Quest no dia 31 de Janeiro de 2022 em Braga, Portugal

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