Aldeias Históricas – As Joias de Portugal
Hoje lhe convido para viajar comigo por caminhos que, a o meu ver, são as joias de Portugal: as Aldeias Históricas.
Nossa viagem começou pelo município de Idanha-a-Nova, localizado no distrito de Castelo Branco, a 300 Km do Porto e 250Km de Lisboa, na região central do país.
Idanha-a-Nova
Logo que chegamos em Idanha-a-Nova nos deparamos com uma vila pacata. Haviam poucas pessoas na rua e o clima estava bastante frio. Era final do mês de fevereiro e estávamos em pleno inverno europeu.
Escolhemos a Pousada da Juventude de Idanha-a-Nova para nossa hospedagem, e diga-se de passagem, nos surpreendeu muito positivamente; fomos muito bem atendidos e o apartamento era perfeito para nós quatro, além da localização e limpeza que nos agradou imenso.
Idanha-a-Nova é fácil de visitar. Saímos caminhando e nos perdendo pelas ruas em pedra e construções antigas. Fomos surpreendidos pela Igreja Matriz, com edificação medieval e reconstruída no século XVI.
Paramos para o jantar e depois seguimos explorando ainda mais a aldeia. Por volta da meia noite, eis que nos deparamos com uma arrepiante tradição pascal: a “Encomendação das Almas”, onde um grupo de homens e mulheres, vestidos com capas escuras, saem cantando para os mortos. Confesso que ficamos bem assustados no começo, me pareceu um pouco sinistro, mas depois entendemos que o ritual faz parte de tradições antiguíssimas e então nos sentimos até privilegiados por ali estarmos.
No dia seguinte seguimos para Idanha-a-Velha, uma freguesia do município de Idanha-a-Nova.
Idanha-a-Velha
Fundada pelos romanos no final do “sec. I a.C.”, Idanha-a-Velha já foi município e hoje é uma aldeia. Considerada uma das maiores estações arqueológicas do país, é uma das mais antigas do conjunto de Aldeias Históricas de Portugal.
Para visitar Idanha-a-Velha não há mistério, sua entrada se dará pela Porta Norte, pois ela é que dá acesso ao interior da “cidade”. Você pode percorrer o topo da muralha num passadiço (optamos por não fazer em função da garoa). Seguimos então em direção à Torre de Menagem, construída pelos Templários em meados do século XIII, e hoje é o que sobrou do Castelo de Idanha-a-Velha.
Caminhando pelas ruas de pedra, nos deparamos também com a Igreja Matriz do século XVI e o Pelourinho logo a frente.
Bem ali, na rua das Amoreiras, em frente ao Pelourinho que encontramos a Casa da Velha Fonte, um café/restaurante tão acolhedor que não resistimos para uma pausa para um cafezinho. Não posso seguir descrevendo Idanha-a-Velha sem mencionar este lugar. Ali conhecemos Maria e Rui, que nos trataram como clientes habituais, embora nunca estivéssemos nos encontrado. Mesmo em tanta correria com os clientes, ainda nos reservaram um tempinho para contar um pouco da aldeia. Sempre digo que o povo de um lugar é o seu termômetro, de nada adianta histórias e belíssimos monumentos se a recepção não é acolhedora. Maria e Rui fizeram com que nos encantássemos ainda mais com a aldeia.
A Igreja de Santa Maria, que já foi Sé Catedral da visigótica Egitânia, é também uma visita imperdível.
Uma aldeia que nos encantou de ponto a ponto, desde as flores nas portas e janelas das casas de pedras, até as cortinas-mosquiteiras nada bonitas, mas que se fazem necessárias. Tudo muito bem cuidado e arrumado. Com uma população pequena, em torno de 48 moradores, são eles os responsáveis por embelezar esta aldeia e recepcionar tão bem quem a visita.
De Idanha-a-Velha seguimos para a tão aguardada Monsanto. Apenas 10 Km separam uma aldeia da outra.
Monsanto
Confesso que nossa viagem para o distrito de Castelo Branco foi especialmente programada para visitar Monsanto, que, aliás, guardo este desejo desde o dia em que assisti a uma reportagem no Globo Repórter (ainda no Brasil), quando a jornalista Glória Maria caminhou por entre as pedras da aldeia que tanto me encantou.
Monsanto fica numa encosta onde enormes pedras de granito foram aproveitadas para paredes e tetos das habitações, algumas delas com uma única pedra formando o telhado. Realmente impressionante!
Em 1938 Monsanto recebeu o título de “A Aldeia Mais Portuguesa de Portugal” e em 1995 o título de “Aldeia Histórica”.
Esta aldeia milenar divide-se em duas zonas: a zona de baixo, onde ficam as casas e alguns comércios, e a zona de cima, onde encontramos o Castelo.
Na chegada, deixe seu carro estacionado no Miradouro da Praça dos Canhões; não tem como errar, você logo irá se deparar com vários canhões e uma vista incrível de toda a região. Aqui começa a caminhada.
Ruelas íngremes (prepare as pernas e não se esqueça dos sapatos confortáveis) nos levam a casas bastante curiosas. Sua primeira parada será na Igreja Matriz e, logo adiante, o Pelourinho de Monsanto que está perto da Capela de Monsanto.
Visite a Torre de Lucano (ou Torre do Relógio) do século XIV, que possui um galo de prata no seu topo. Galo este que foi atribuído a Monsanto num concurso realizado em 1938 onde recebeu o título de “A Aldeia Mais Portuguesa de Portugal”, pela sua cultura e autenticidade.
Caminhando pela Rua do Castelo, de um lado temos o Café Monsantino, perfeito para uma parada para um cafezinho antes de continuar a subida. Do outro lado e bem em frente ao café, encontramos a Pedra da Paciência, um banco de granito encostado a uma casa onde era o antigo presídio. Este banco servia de assento aos interessados em visitar os presos ou para as testemunhas de processos judiciais que aguardavam serem chamadas.
Também ao lado é possível avistar o consultório de Fernando Namora (1919-1989), médico e reconhecido escritor português. Na fachada tem uma placa que cita sua obra “A Nave de Pedra”, editada em 1975. Seus últimos livros foram escritos na aldeia.
Seguindo ainda pela Rua do Castelo, vamos parando para um descanso e para as fotos. A aldeia medieval é mesmo de impressionar.
Chegamos finalmente no castelo e, com certeza, no melhor de todos os miradouros da região, localizado na colina mais alta da aldeia a mais de 700 metros do nível do mar. A subida não é fácil, mas compensa pela vista que se tem. O Castelo está classificado como Monumento Nacional desde 1948 e terá sido construído pelos Templários.
Atravessamos a Porta da Traição e fomos caminhar pelas muralhas. A fortificação não resistiu ao tempo, mas sabe-se que ali havia um castelo com quatro torres, sendo uma delas de menagem. De todas, apenas a Torre de Atalaia se mantém (mesmo em ruínas), assim como a Capela de Santa Maria do Castelo e a Cisterna.
Monsanto é, sem dúvida, um dos lugares mais incríveis de Portugal e singulares do mundo. Esta aldeia mística e de cenários naturais também despertou a atenção de produtores cinematográficos, que lá encontraram o cenário perfeito para a nova saga da famosa série “Game of Thrones”, sucesso mundial. As filmagens já foram rodadas e logo poderemos ver a bela Monsanto divulgada por todo o mundo.
Somos eternos apaixonados por aldeias históricas e pelo Turismo de Experiência e, com certeza, Monsanto foi uma das melhores experiências que tivemos, desde a magia da época medieval, sua história, seu povo, seu cenário e a natureza.
Quer uma dica? Inclua Monsanto em seu próximo roteiro em Portugal.
Roteiro na Mão
@roteironamao