“A cidade onde envelheço” – sobre pertencer e sentir saudades
O cinema é um meio fascinante de aproximação das culturas. Quem é que nunca se imaginou tomando um café em Paris, cavalgando em vastos desertos no Oeste Americano ou investigando mistérios em Londres? Todas essas representações – muitas vezes cheias de estereótipos, é verdade – colocam-nos mais próximos de outros povos e países. Esta coluna propõe-se a funcionar como um diálogo cinematográfico entre Brasil e Portugal, utilizando a sétima arte como ferramenta de aproximação entre as nossas culturas.
Também, é claro, pretende oferecer sugestões interessantes do que há de melhor no cinema dos dois países. Para este primeiro texto, decidi escrever sobre o premiado filme luso-brasileiro chamado “A cidade onde envelheço”, de 2016. A película mostra a vida de duas jovens portuguesas emigradas e todos os sentimentos e desafios que essa condição as impõe. A produção é fruto da parceria da realizadora brasileira Marília Rocha, com a atriz portuguesa Francisca Manuel, que na época morava no Brasil.
Francisca (Francisca Manuel), que mora em Belo Horizonte há cerca de um ano, recebe Teresa (Elisabete Francisca), colega de infância da qual se distanciou com o tempo. Enquanto a recém-chegada se encanta com a nova vida, com as pessoas e com a cidade, Francisca sofre cada vez mais com a saudade de sua antiga casa.
O filme retrata, de forma singela, o misto de estranhamento e fascínio gerado pelo contato com um mundo novo e o difícil processo de encontrar o seu espaço nesse outro contexto. Apesar da complexidade dos sentimentos envolvidos, a obra aborda esses temas dentro de uma narrativa leve e divertida, mas nem um pouco simplista. Convida ainda a audiência a refletir sobre o dilema entre a mudança e a permanência os desafios que o ato de partir nos impõe.
Entre o encantamento pela novidade e a falta do que outrora se chamou de lar, “A cidade onde envelheço” uma delicada representação audiovisual da palavra saudade, sentimento que portugueses e brasileiros sabem sentir como ninguém.
Filme: A cidade onde envelheço
Ano: 2016
Realizadora: Marília Rocha
Daniel Schiavoni é jornalista e mestrando em Comunicação, Arte e Cultura na Universidade do Minho