Mudança de País: Sonho, Decepção e Adaptação

Mudança de País: Sonho, Decepção e Adaptação

            Começar a morar em um novo país, pode ser uma experiência de profunda decepção. Isso acontece porque quando estamos a preparar uma mudança, tendemos, logicamente, a pensar que estamos indo para um lugar melhor do que o de agora, estamos indo para viver algo que vale a pena, estamos em busca, claro, de uma Vida melhor. Sendo assim, nossa mente para conseguir virar as costas a tudo o que vamos deixar para trás, precisa criar inúmeras expectativas, ideais e projetos, que muitas das vezes podem ser fantasiosos. A verdade é que mesmo conhecendo o país onde vamos imigrar, conhecendo a cultura e as pessoas, esta experiência prévia, nunca será suficiente para a experiência real de habitar aquele novo país.

Quando estamos como turistas, nosso cérebro processa tudo de uma forma diferente, tendemos a procurar apenas o belo da cidade, pontos turísticos, orientamos nossa estadia para experimentar coisas novas, sabores, e não nos importamos com pequenos problemas, porque estes são passageiros. Além do mais, como turistas, tendemos a não nos importar com as despesas, pois grande parte das vezes estamos a gozar de férias e tudo o que queremos é aproveitar aquele tempo. Dessa forma, compreenda, mesmo sendo o mesmo país que você vai mudar um tempo depois, o turismo sempre é uma circunstância diferente de habitar. Sendo assim, acabamos por nos iludir quanto ao que esperar neste novo mundo: fazemos planos, idealizamos, e projetamos todo aqueles sonhos de uma nova vida, onde tudo parece muito fácil dentro da nossa mente.

            Porém, quando realmente a mudança começa a se concretizar, começamos a enfrentar a vida real. A realidade é incompleta, cheia de falhas, e obstáculos. Nossa cabeça, mesmo em uma mudança muito bem planejada, não consegue abarcar todos imprevistos e obstáculos que serão apresentados no início da nova vida, isso porque, simplesmente a vida é inusitada. Mudar significa começar tudo do zero, primeiramente vem as burocracias e documentos, em que temos que ir nos adequando a novas leis e regras, tão incomuns para nós. Depois vem a preparação de uma nova casa, pensar na localização, mobília, emprego, estudo, trabalho, e tantas outras organizações que uma mudança de país implica. Aquilo tudo que parecia tão glamoroso e simples na nossa mente, começa a ser vivido muitas vezes como estressante, angustiante e tão frustrante na prática do dia a dia.

Nestes primeiro empecilhos por vezes podemos pensar: “mas eu não preciso passar por isso”, “não era isso que eu imaginei”. Essas frases é um sinal de que você não estava contando com um fator essencial na sua cabeça: que toda adaptação é um tipo de sofrimento. Queremos mudar de país, e nos enganamos ao pensar que aquele país está de portas abertas para nos receber, que tem um emprego me esperando, que eu vou morar em um lugar melhor, ter melhores vizinhos, vou comer melhor, ou seja, não contamos que apesar de escolher um país que nos parece mais benéfico para viver, a vida nova lá, não será só de benefícios e ganhos. A verdade é que morar implica em uma rotina, ou seja cair diretamente na vida real, e esta vida, é ordinária, com chatices, frustrações e problemas do dia a dia, que vão existir aonde quer que você esteja.

Mudar-se para outro país requer adaptação, e toda adaptação é um sofrimento, pois exige mudar a nós mesmos. Primeiramente abrindo mão de tudo o que tínhamos antes, e de tudo o que nós éramos antes. Depois, temos de abrir mão de nossas próprias expectativas fantasiosas, ao encontro do que podemos esperar de verdade daquela nova realidade. Decepcionar é importantíssimo, para que nós possamos entrar dentro da experiência. É como em um romance, primeiro, tem a fase da paixão, ficamos embebidos pelos sentimentos de alegria, contemplação, suspiros, e coração acelerado diante do ser amado. Nesta primeira fase há muita empolgação, sonhos e tendemos a olhar apenas para toda a beleza e qualidades do ser amado. Nesta fase, projetamos todos nossos sonhos nessa pessoa, aos poucos a paixão vai acabando, e com o convívio, vamos conhecendo as nossas diferenças, as dificuldades e até podem vir as primeiras discussões. Neste momento, nos decepcionamos com o ser amado, porque descobrimos que ele não corresponde à pessoa que criamos em nossa mente, na verdade, descobrimos quem ele é realmente. E só então, podemos começar a relacionar com uma Pessoa e não com a minha projeção.

Sendo assim, só após a decepção nesta aventura de mudar de país, é que eu posso começar a me adaptar, me relacionar e experimentar de fato, como é viver neste lugar. Pode ser doloroso ter de se flexibilizar e ajustar com as exigências dessa nova vida, não existe um paraíso onde não há problemas, dificuldades e frustrações. A realidade é sempre imprevisível, e sempre apresenta ganhos e perdas. Por isso, quando as primeiras dificuldades chegarem, não é sinal para voltar atrás, não é o momento para desistir. O segredo está em saber escolher, escolher quais ganhos que eu busco que são mais valorosos para mim, e quais perdas estou disposta a sofrer, em busca da minha realização nesta nova vida !

Luiza Orlandi
Psicóloga Clínica

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