Você já ouviu falar do Corfebol e do Corta-Mato?
Há quatro anos vivendo em Portugal, com dois filhos em idade escolar, pudemos perceber uma maior valorização do desporto na vida das crianças e dos adolescentes. Sem dúvida, o investimento nesta disciplina é um acerto gigantesco no planejamento da grade curricular do ensino educacional.
Por vezes, se minimiza a intervenção da disciplina e dos profissionais de Educação Física nas escolas. No entanto, se bem estruturada, ela traz grandes benefícios à saúde pública, pois auxilia na prevenção de doenças e na promoção da qualidade de vida.
A atividade física regular aumenta a disposição, traz melhora no desempenho escolar, reduz a ansiedade, promove o fortalecimento do sistema imune, melhora a postura, a força e a resistência muscular, diminui o risco de doenças cardiovasculares, combate a obesidade, entre outros tantos benefícios. Sem falar na potencialização e descoberta de novos talentos para o desporto de alto rendimento.
No Brasil, no âmbito escolar, com raras exceções, a disciplina da Educação Física fica restrita à prática do voleibol, do futsal e do atletismo, especialmente na rede pública, onde, via de regra, a estrutura física e de equipamentos é mais escassa. Além de serem mais populares, estas modalidades não exigem grandes investimentos por parte do poder público. Uma quadra polidesportiva, mesmo com piso de concreto, e algumas bolas já são suficientes para cumprir o currículo e alegrar boa parte da garotada.
Em Portugal, há um cuidado maior no leque de oportunidades quando o assunto é a prática desportiva. Desde pequenos, os alunos podem vivenciar outras modalidades como, por exemplo, handebol, basquetebol, badminton, dança, tênis de mesa, provas de orientação, entre outras. Se ampliarmos o espectro para clubes e associações, a oferta aumenta ainda mais. É muito comum vermos colegas dos nossos filhos praticando ciclismo, hóquei, patins em linha, natação e etc.
Entretanto, produzi este texto pensando em lhes apresentar duas modalidades que foram novidade para mim. E olha que eu trouxe do Brasil uma consistente bagagem de vivência pessoal e profissional dentro do segmento desportivo. Aqui em Portugal, meus filhos tiveram contato com o Corfebol e com o Corta-Mato. Já ouviram falar?
O Corfebol chama a atenção por ser uma modalidade que procura tratar os gêneros com igualdade. É o único desporto onde é obrigatório que as equipes sejam constituídas por 50% dos participantes do gênero masculino e 50% do gênero feminino. Durante o jogo, homens podem apenas marcar homens e mulheres apenas marcar mulheres. Isso faz com que não haja preconceito quanto ao gênero, transformando o desporto num meio altamente eficaz de integração social, que é a linha que mais defendo.
A modalidade tem origem na Holanda, no início do século passado. O objetivo principal doCorfebol é introduzir a bola no cesto da equipe adversária. O cesto está colocado num poste a 3,50 m do solo. A bola é disputada por duas equipas de oito elementos e só pode ser jogada com a mão. Não pode driblar e os jogadores não podem dar passos com a bola na mão. Para simplificar o entendimento, o corfebol é uma espécie de misto entre o basquetebol e o Newcomb (nilcon), que aprendemos na escola, como iniciação ao voleibol.
Para saber mais sobre o Corfebol deixo aqui o link da Federação Portuguesa da modalidade. http://www.fpcorfebol.pt
Penso que a outra modalidade muito curiosa para os brasileiros é o Corta-Mato ou Cross Country (em inglês). É um desporto individual ou de equipe, em que os atletas competem numa corrida em terreno aberto ou acidentado. Difere de corrida em estrada ou em pista, principalmente no percurso, pois pode incluir grama, lama, mata ou água. É uma das modalidades mais inclusivas em Portugal.
O Corta-Mato Nacional é uma das provas do Programa do Desporto Escolar organizada pela Direção-Geral da Educação e pela Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares. Através da participação cada vez maior em número de alunos, esta competição, realizada em três fases (escolas, regional e nacional), tem lugar de destaque no calendário anual.
O programa desta prova inclui, para além do Corta-Mato do Desporto Escolar, que se realiza em categorias por diversas idades, o Corta-Mato Nacional Curto da Federação Portuguesa de Atletismo e o Corta-Mato Nacional Universitário da Federação Acadêmica do Desporto Universitário.
Tal como no Brasil, o desporto escolar em Portugal também luta por maior valorização no currículo escolar, mas como se pode perceber, relativamente ao Brasil, já tem mais espaço conquistado. Convido-os a dar uma olhada no site da Direção-Geral da Educação, totalmente voltado ao desporto escolar. https://desportoescolar.dge.mec.pt
Luciano Gasparini Morais
Ex-árbitro da Federação Gaúcha de Futsal (Brasil)
Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos/RS (Brasil)
Pós-Graduado em Gestão Desportiva na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (Portugal)