Lisboa, O Contraste do Moderno com o Antigo
“Quando viajo”
Marianela Costa Figueiredo
Viajar, divagar, arrepiar, passar a limpo…
Refletir, sacudir memórias do Olimpo!
Viajar, admirar, vislumbrar…
Viver, absorver, conviver em orações…
Ricas, radicais, recorrentes recordações!
Vinda do “ultramar”, Lourenço Marques, hoje Maputo (Moçambique) , minha terra Natal, morei em Lisboa 16 anos, onde fiz minha primeira graduação. Os avós nasceram em Lisboa e no início do século XX emigraram para terras distantes, em busca de um lugar para trabalhar e viver com mais conforto. Novos desafios, e novas famílias foram constituídas, numa época sem telefone, sem televisão, nem avião.
Hoje moro no Brasil, por casamento, e considero ter duas pátrias que muito admiro, por seus próprios contrastes culturais.
Lisboa e o “elétrico”:
Lisboa caracteriza-se pelo contraste entre o presente e o passado, entre o moderno e o antigo. Coloco como um dos símbolos, o charmoso “elétrico” que, segundo a Wikipédia, “A rede eletroviária lisboeta foi desenvolvida pela Companhia dos Carris de Ferro de Lisboa, que desde 1872 era uma das concessionárias de transportes públicos de passageiros na capital portuguesa, assegurando as carreiras que explorava com veículos de tração cavalar rodando sobre os epónimos carris — os “carros americanos”. A rede de elétricos da cidade iria desenvolver-se a partir destas linhas, que se estendiam à época já a Algés,Xabregas e Benfica.” Ainda segundo essa fonte: “A rede é em bitola reduzida de 900 mm, uma medida invulgar, utilizada em muito poucos sistemas no mundo, sendo Linz uma das poucas cidades com bitola idêntica em funcionamento — a rede de elétricos de Braga, encerrada em 1963, também utilizava esta bitola.”
Hoje, temos em transportes, os mais variados meios mas o elétrico figura ainda no presente como imagem de um passado em que as ruas comportavam transportes “bem comportados”, em seus traços de ferro paralelos e inflexíveis que, em seu trajeto, delimitam um caminho de vai e volta. Nos anos 80 e 90, houve retração da rede e do serviço. Em 1994, quatro elétricos foram vendidos ao quilo para sucata pela empresa, o que suscitou críticas. Isso levou a uma mudança de política, tendo em vista a preservação da lembrança desse meio de transporte. Hoje, os elétricos estão presentes ainda na baixa de Lisboa, podendo ser vistos, por exemplo, na Avenida Almirante Reis até na Praça da Figueira. Aqui podemos lanchar na pastelaria Suissa, tradicional ícone doce que vem do passado até hoje.
Bem ao lado, a Rua Augusta, que representa o coração de Lisboa, nos meus tempos de estudante de História na Faculdade de Letras de Lisboa, por ela passeei, comprei, e tomei minhas “bicas”, hoje se diria café “espresso”. Atualmente, uma rua apenas para pedestres, preservando assim, um complexo de relíquias históricas, também subterrâneas. O Império romano se estende no subsolo, em passado histórico subterrâneo à visitação.
Pelas pedras da Rua Augusta passaram os coches, antigas carruagens puxadas por cavalos que hoje figuram, de forma deslumbrante, no Museu Nacional dos Coches.
Em épocas mais recentes, modelos de automóveis cada vez mais modernos usufruíram das belezas de um passado, que teve grandes transformações, pois o fluxo populacional se tornou maior, obrigando a ser apenas uma só via de trânsito até que a consciência histórica portuguesa a transformou em um monumento aberto e preservado da poluição ambiental e sonora.
Ao fundo, como homenagem ao ciclo comercial de um dos países mais navegantes da humanidade: Praça do Comércio, ou Terreiro do Paço é uma praça situada junto ao rio Tejo, onde os reis de Portugal tiveram suas moradias, durante cerca de dois séculos e que hoje está ocupado por ministérios e outros departamentos governamentais, mantendo-se o passado na ocupação de estruturas governamentais modernas: “É uma das maiores praças da Europa, considerada o “centro oficial da capital e do governo do país”.
No Terreiro do Paço, (imagem: Terreiro do Paço em 1662, por Dirk Stoop), existia o Palácio Real, em cuja biblioteca estavam guardados 70 mil volumes e centenas de obras de arte, incluindo pinturas de Ticiano, Rubens e Correggio. Tudo foi destruído no terramoto de 1755, onde hoje se encontram os edifícios que a constituem. O Arquivo Real com documentos relativos à exploração oceânica, com numerosas cartas do descobrimento do Brasil e outros documentos antigos também foram perdidos. A 1 de fevereiro de 1908, o rei D. Carlos e o seu filho, o Príncipe Real D. Luís Filipe foram assassinados quando passavam na praça. ( fonte:Wikipédia).
O piso desse passado histórico suporta nossas caminhadas em férias, revivendo em fantasia as épocas dos descobrimentos marítimos com as naus aportando com especiarias e muitas histórias, incluindo as de Marco Polo, para contar aos filhos, já crescidos e carentes, na espera de seus pais.
Na Praça do Comércio, olhando em direção ao rio, vamos para a esquerda… até chegarmos ao Oceanário de Lisboa.
Ao visitar a Expo, 1996, em mais um contraste entre o moderno e o antigo, me lembrei da vocação marítima de Portugal: o Oceanário de Lisboa. Nele, os visitantes são levados a conhecer, em sete milhões de litros de água salgada, mais de 500 espécies e os oceanos do planeta. Uma profunda “expedição” pelo mundo marinho e uma oportunidade única de (re)visitar o Oceanário de Lisboa e o Aquário Vasco da Gama, ícones nacionais e da memória coletiva do portugueses. O Aquário Vasco da Gama (para saber mais: http://ccm.marinha.pt/pt/aquariovgama/aprendermais) traz à memória as águas percorridas por esse “bravo marinheiro”. E nesse pensamento, voltei às minhas lembranças dos tempos do liceu quando estudei “Os Lusíadas” de Camões, poeta épico português. Sobre essa obra, apreciei: “Os Lusíadas trata-se de uma obra, produto da nova mentalidade renascentista, segundo a qual o Homem volta a ser, como na antiga Grécia, a medida de todas as coisas. Valorizar o Homem e os seus feitos, é uma das principais motivações de os Lusíadas. Aí se fala nos «homens valorosos» -Vasco da Gama, Nuno Álvares, Afonso de Albuquerque e outros.”
O passado e o presente se aliam no contraste em o antigo e o moderno: “As duas instituições, para além de partilharem a data de inauguração, com um século de diferença, representam a ligação dos portugueses ao mar e ao seu bem mais precioso, a biodiversidade. Esta ação marca o início de uma nova etapa de colaboração em prol deste bem comum, que é de todos os portugueses”, refere João Falcato, Administrador do Oceanário de Lisboa no site do próprio Oceanário (agosto 2006).
Este texto foi uma colaboração da Professora Marianela Costa Figueiredo: Marianela Costa Figueiredo, casada com brasileiro, natural de duas pátrias – Portugal e Brasil, mãe de duas filhas, avó de um casal de netos, ex-professora e, atualmente, coordenadora de Pós Graduação do Unibh (Centro Universitário de Belo Horizonte – MG – Brasil).
Graduação em Pedagogia, Licenciatura em História, especialização em Dificuldades de Aprendizagem e Orientação Educacional. Mestrado em Tecnologia pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais. Atualmente é coordenadora do curso de Psicopedagogia Institucional e Clínica da Pós-Graduação do Centro Universitário de Belo Horizonte. Experiência na área de Educação, com ênfase em Ensino-Aprendizagem, atuando, principalmente, nos seguintes temas: Ensino e Pesquisa, Tecnologias da Comunicação e Informação (TIC), Currículo, Didáticas, Inclusão Social, Aprendizagem, Interdisciplinaridade, Formação de Professores e Psicopedagogia, com páginas no facebook. Tem pesquisas e capítulos individuais ou co-autoria, publicados em revistas e em livros nas áreas das Tecnologias da Comunicação e Informação (TIC) e Formação de Professores. 1. Formação docente: práticas, textos e contextos. Fundac, 2008. 2. Pesquisa e Prática Pedagógica. Agir sim, com reflexão. Curitiba: Editora Fael, 2010. 3. Olhares plurais sobre o meio ambiente: uma proposta interdisciplinar (organizadora e autora). São Paulo: Editora Ícone 2010. 4. Práxis Docente: o sujeito, as possibilidades e a educação. Curitiba: Editora Fael, 2011. 5. Escritos sobre educação: desafios e possibilidades para ensinar aprender com tecnologias, São Paulo: Editora Paulus, 2013. 6. Formação de Docentes Interdisciplinares. Curitiba, Paraná: Editora CRV, 2013. Publicação de vários artigos, sendo em 2014: “A prática educativa baseada em evidências: contribuições na formação de docentes interdisciplinares. Revista Interdisciplinaridade. (v.1, n5): PUC- SPaulo. revistas.pucsp.br. 2016: “A Educação global” Estado de Minas, Seção Opinião, 5/07/2016. No prelo, participação em Dicionário de Tecnologias – UFScar.