Apenas uma faísca

Apenas uma faísca

Nocaute aos obstáculos
Diego Faísca: de menino pobre no Brasil a atleta reconhecido em Portugal

• Rodrigo Cruz •

Vontade de vencer e resiliência para superar os obstáculos são as características mais marcantes na vida de Diego Duarte, mais conhecido no mundo da luta como “Diego Faísca”. Nascido no Rio de Janeiro e criado no Rio Grande do Norte, aos 8 anos de idade Diego já vendia fruta na feira para ajudar no sustento de sua casa. Sem nunca ter tido contato com o pai, presenciou por diversas vezes o seu padrasto batendo em sua mãe. Confundido com ladrão de bicicleta, começou a treinar jiu jitsu e acabou se destacando como lutador de MMA. Hoje, aos 31 anos de idade, é casado, tem um filho e tem sua própria academia na cidade do Porto.

Aos 3 anos de idade, sua mãe, dona Josélia, decidiu deixar o Rio de Janeiro e partir à terras potiguares, onde teria o apoio de seus pais. Foi a partir daí que o menino Diego passou a sentir os primeiros golpes da vida. “Eu não conheci o meu pai. Sempre tive um padrasto, e na minha infância era muita confusão, briga demais, e eu vendo a minha mãe apanhando. Pequenininho eu já tinha que ir pra cima dele para defendê-la”, relata.

Diego foi obrigado a amadurecer muito rápido. Aos 8 anos, catava frutas na casa do vizinho, colocava em um carro de mão e ia vender em feiras livres. “Depois disso eu ainda vendi picolé, entreguei água e gás, fui cobrador de transportes de lotação. Eu sempre transformei dificuldades em trabalho”, orgulha-se.

As lutas também surgiram muito cedo para ele. Antes dos 11 anos, passou a treinar kung fu e taekwondo com seu vizinho. Eles se dirigiam até o quintal, onde foi improvisado um ginásio de lutas, com sacos de areia e pneus. Nesse quintal nasceu o espírito de um artista marcial que Faísca passaria a ser.  Um ano depois, o miúdo foi apresentado ao esporte que mais tarde mudaria a sua vida: o jiu-jitsu. O encontro aconteceu em 1999, em um bairro periférico na Zona Norte de Natal, em uma filial da equipe Kimura – bandeira que defende até hoje. Seu primeiro mestre, Henrique “Bombeiro”, se emociona ao falar do pupilo:

“Certo dia, eu estava a dar aula de jiu jitsu, e o ‘Faísca’ chegou para olhar o treino. Meus alunos ficaram desconfiados com aquele menino estranho, assustado, e ficaram a cochichar. ‘Cuidado, ele vai roubar sandálias, material de treino ou até uma bicicleta’. Após o treino, eu mandei ele entrar e perguntei o que fazia ali, se ele tinha a intenção de roubar algo. Ele falou que só queria ver o treino, e tinha muita vontade de aprender. Para testar sua vontade, mandei limpar todo o tatame e voltar no outro dia. Após assistir o treino, mandei limpar o tatame e os banheiros. Para a minha surpresa, no terceiro dia, ele estava lá de novo. Realmente era isso que ele queria. Nesse mesmo dia, já o presenteei com um quimono. O guerreiro já estava com a armadura. Tenho muito orgulho em ter feito parte da vida dele”.

Como lutador de jiu-jitsu, venceu muitas competições importantes, em uma época de muita rivalidade no Brasil. Paralelamente a isso, Diego passou a fazer parte de uma torcida organizada, e passou a se meter em muitas confusões nos estádios. “Nesse tempo, movido pela adrenalina de brigar na rua, acabei me envolvendo nessa torcida. Acabei perdendo muitos amigos, inclusive um deles levou um tiro do meu lado e morreu. A galera já não saia mais na mão, e sim na bala”, relata o lutador, que continua: “Deixei a torcida por causa do perigo e também por que vi que era bom de briga e podia ganhar dinheiro com isso e poder ajudar minha família a mudar de vida”.

O lutador do UFC Jussier Formiga, amigo de Diego desde a adolescência, não tem dúvidas que ele nasceu predestinado a vencer. “O Faiscão sempre foi um moleque trabalhador, batalhador. Treinamos juntos por muitos anos, desde que eu tinha 15 anos e o conheço muito bem. Ele sempre gostou de treinar, fez muita luta dura, e fico muito feliz em ver o trabalho que ele vem desenvolvendo no seu ginásio em Portugal, formando os futuros campeões do país.

Seu maior sonho era mudar a vida da família. E mudou. Hoje, aos 31 anos de idade, Diego tem um cartel profissional de 10 vitórias e 6 derrotas, conquistado lutando em países como Brasil, Portugal, França e Suiça. Já enfrentou e venceu importantes nomes, como o ex-UFC Anistávio “Gasparzinho” e o ex-campeão do Jungle Fight Arinaldo Silva. Atualmente, vive na cidade do Porto com sua esposa, Érica, e seu filho de apenas 10 meses, Jorginho. Ele administra e dá aulas em sua própria academia, a Kimura Portugal, e aposta que dali sairão muitos campeões e muitas vidas serão mudadas através do esporte, como a sua própria. É necessário apenas uma faísca…