Vereadora Dra. Júlia Rodrigues Fernandes
Vila Verde: onde o amor acontece
Tem romance no ar. 14 de Fevereiro é o dia de São Valentim, uma data especialmente comemorada pelos namorados, que reafirmam os seus votos de amor em cartões, juras e presentes. Conta a história, que o Bispo Valentim lutou contra as ordens do imperador romano Cláudio II, que proibiu o casamento durante o período de guerras por acreditar que os solteiros teriam melhor desempenho em combate. No entanto, o bispo continuou a celebrar matrimónios. Descoberta a desobediência, Valentim foi preso e condenado à morte. Daí os apaixonados comemorarem o Valentine´s Day. Em Vila Verde, Fevereiro é o “Mês do Romance”, com uma intensa programação durante todo o mês e não só. Nesta edição, conversamos com a vereadora da Cultura, Educação e Ação Social do Município de Vila Verde, Júlia Rodrigues Fernandes, sobre os eventos, a história e a força da marca “Namorar Portugal”.
De que maneira o lenço dos namorados entra na tradição portuguesa?
O lenço entra na tradição mais ou menos nos finais do século XVIII e início do XIX. As moças em idade de casar começavam a bordar o seu lenço. Bordavam à noite, à beira da lareira, muitas vezes só na chama de uma vela, de uma candeia, porque durante o dia trabalhavam. Essas meninas, a maioria delas, não sabiam nem ler, nem escrever. Elas não iam à escola nesta altura, então para conseguir bordar o seu lenço tinham que recorrer a alguém que soubesse escrever. Nesses lenços elas colocavam diversos símbolos, desde os corações e as chaves que estavam ligadas ao coração. Usavam muito a simbologia do passarinho como um mensageiro amoroso. ‘Vai carta feliz voando, no bico dum passarinho, quando vires meu amor, dá-lhe um abraço e um beijinho’. Também usavam muito aquilo que chamamos de silvas, que são pequenos apontamentos que aparecem nos lenços, como umas cordas com pequeninas folhas e flores, que são as prisões de amor. Os primeiros lenços aparecem em ponto de cruz e estão ligados à religião, marcas da fé e da religiosidade da mulher minhota. Depois de bordar esse lenço, ela tinha que fazer chegar ao amado. Eles não trocavam mensagens, isto tinha que ser um ato público. Normalmente nas festas, nas romarias, nos terreiros. Enquanto dançava, ela tinha que fazer parar o lenço ao ombro do amado. Era o lenço que marcava esse início de namoro assumido. Se ao fim, ele fosse para casa com o lenço posto em cima dos ombros, isso significava: também gosto de ti, vou falar com teus pais e vamos começar a namorar. Se ele devolvesse o lenço, significava: percebeste alguma coisa mal. Depois há também uma história muito interessante que surge um pouco mais tarde, quando da imigração para o Brasil em 1930 a 1950. Muitos dos homens do alto e do baixo Minho foram para o Brasil. Eles levaram os lenços com eles porque os lenços eram um sinal de uma grande história de amor e de que tinham alguém aqui. Eles pensavam que elas iam depois, mas isso não aconteceu, acabaram por se casar com outras mulheres. De facto nós temos registos, pois quando colocamos os lenços na internet, no Facebook, várias pessoas vieram nos perguntar o que era isso que tinham encontrado nas coisas do avô. A resposta era sempre: ‘Podes mexer em tudo, mas nisto não toquem, por que isto é sagrado’. E vinham perguntar: ‘Mas, por que isso era sagrado para meu avô? Por que ninguém podia tocar?’ e nós explicamos: porque são lenços de namorados. Porque é sinal de um grande amor que ele deixou aqui em Portugal. Então as pessoas ficavam emocionadas.
Como surgiu a ideia da marca “Namorar Portugal”?
Em dado momento, algumas mulheres, que conheciam a tradição, começaram a fazer recolha. Elas foram para o terreno, bateram à porta das pessoas e se puseram a perguntar: você conhece isso? Se importa de nos mostrar? E as pessoas começam a tirar de seus baús os lenços que lá estavam. Não tinham noção do que era aquilo. Começamos a ver onde os lenços estavam e começou-se a capacitar as mulheres que aprenderam a bordar, a fazer réplicas fiéis aos lenços. Em 1988 formamos a cooperativa ‘Aliança Artesanal’. Esta cooperativa é feita com algumas mulheres que estão a tempo inteiro a bordar, outras que nas suas casas vão bordando, vão conciliando a vida pessoal e a vida profissional. Conseguem olhar os filhos e nas horas vagas estão a bordar e levam esse trabalha à ‘Aliança Artesanal’ e são pagas pelo trabalho que fazem. E, este é um ótimo complemento àquilo que é o orçamento familiar. Este trabalho foi sempre feito de 30 anos pra cá. Há uns 25 anos me aparecem aqui duas mulheres, uma pintora extraordinária, que é a Fátima Mendes, com outra senhora, Maria Lucia, que tentaram uma experiência em cerâmica e começaram a fazer um pequeno serviço de café pintado à mão. Entretanto, há 16 anos decide-se que era interessante, por que não? Desafiar os estilistas nacionais e design de moda para conceberem algumas peças de vestuário inspirado nos lenços dos namorados. O primeiro concurso foi chamado ‘Namorar Vila Verde’, uma coisa pequena, mas que teve um impacto tão grande que no ano a seguir passou a chamar-se ‘Namorar Portugal’ e começou a crescer. Registamos a marca em todas as categorias disponíveis no mercado. Hoje temos serviço de loiça, serviço de mesa, serviço de chá, tarteiras, boleiras e tudo o que se pode imaginar.
Qual o impacto económico e social dessa produção para Vila Verde?
Nós temos muitos parceiros, fizemos uma campanha brutal com a Tap. Aliás, há dois anos a Tap ganhou um prémio internacional por essa campanha com o lenço dos namorados. No dia 14 de fevereiro de 2016 todos os aviões estavam estampados com o lenço dos namorados e as pessoas perguntam-nos : vocês têm parceria com tantas empresas como a Tap, a Vista Alegre, a Ryanair… o que é que vocês ganham com isto? Não recebemos royalties, o que nos satisfaz é que quando a Vista Alegre vende uma chávena, dentro da embalagem vai um folheto que conta a história do lenço dos namorados e cita Vila Verde. Isto é importante! É notoriedade do território. Quando fazemos campanha com essas companhias aéreas, nas capitais europeias da cultura, estamos a criar notoriedade para o território e estamos ao mesmo tempo a ajudar que as pessoas, residentes e não só, parceiros de todo o país, cresçam. Eu tinha aqui pessoas desempregadas, pessoas cuja empresa estava em imensa dificuldade e de repente, quando começam a trabalhar com a ‘Namorar Portugal’ e a virar o seu modelo de negócio, a realidade começa a mudar. Em termos de economia local e nacional é uma marca importante, com notoriedade que conseguiu atrair parceiros. Hoje, as pessoas vêm aqui para saber como podem fazer parte da ‘Namorar Portugal’.
Na noite de 14 de fevereiro tem o tradicional evento de Gala Namorar Portugal. Conte-nos um pouco sobre este evento.
Quando nós falamos de ‘Gala Namorar Portugal’ nós falamos do ponto alto da programação de ‘Fevereiro – Mês do Romance’. Falamos de facto de uma noite de glamour, uma noite de charme, uma noite de romance. As pessoas são convidadas para um espaço que fica como uma sala de espetáculo, onde as pessoas são convidadas para um jantar e acontecem imensas coisas. Nós convidamos apresentadores daquelas pessoas que estão em alta. Já esteve cá a Bárbara Guimarães, a Iva Domingues, aqueles que pensamos ser os grandes apresentadores da nossa televisão. Já esteve cá toda essa gente! Nós convidamos os manequins também de renome. Já esteve cá a Rita Pereira, Cláudia Vieira e Jane Gabriel, pessoas que são muito conhecidas vêm desfilar. Depois convidamos cantores desde Miguel Araújo, Mia Rose e Rita Guerra, que são cantores conhecidos. Temos o cuidado de escolher personalidades para esta noite que tem como ponto alto o ‘Concurso Internacional de Criadores de Moda’. Desafiamos as pessoas a criarem peças de vestuário contemporâneas que tenham como mote o ‘Lenços de Namorados Escritas de Amor’, seja bordado, estampado ou como quiserem. Eles vão apresentar propostas de moda. As escolas de moda do país estão todas aqui associadas. Nós temos 80, 90 propostas de moda que passam nas passarelas pelos manequins. O Júri é composto por pessoas das universidades, estilistas, organizadores de eventos de moda, que vão premiar vários dos concorrentes. São várias premiações. O público também vota e, é atribuído um prémio. É um evento interativo e muito concorrido. Alguns convites são colocados à venda, mas são sempre poucos bilhetes. Dos 500, apenas cerca de 200 são colocados à venda.
Quais são os projetos da marca para os próximos anos?
A internacionalização é sempre um dos nossos grandes objetivos. Estamos sempre à procura de candidaturas que nos permitam o financiamento em algumas feiras internacionais, já fizemos algumas feiras. Fazemos todos os anos em França, que este ano vai ser em Abril. Já fizemos ações em Bruxelas, no próprio Parlamento Europeu e na Espanha. Alguns de nossos parceiros estão em processo de internacionalização também. Queremos abrir outras lojas ‘Namorar Portugal’ no país e fora dele. Penso que isso pode se concretizar nos próximos tempos, uma em França e uma na Inglaterra. No mais, queremos manter a excelência, abrir novas linhas de produtos, continuar a posicionar Vila Verde como um destino de excelência trazendo notoriedade para o território.
Vila Verde é a terra do amor? Sim! É a Vila do amor, o nosso slogan é esse. Vila Verde: onde o amor acontece. Afinal é isso que queremos. Amor, carinho, solidariedade, paz. Estes sentimentos que cada vez mais o mundo precisa. Vila Verde é uma terra pacífica e temos por tradição que quem vem a Vila Verde apaixona-se por Vila Verde e fica cá.