Henri Castelli
Padrinho da Associação UAI, Henri Castelli, confessa amor pela gastronomia portuguesa e investe no país.
Em entrevista exclusiva, ator brasileiro fala sobre sua intensa relação com Portugal.
• Elaine Trindade •
• Izabela Muniz •
De São Bernardo do Campo, para o mundo. Quem era Henri Castelli antes da fama?
Antes de trabalhar como ator, eu morava em São Bernardo, em São Paulo. Eu estudava, comecei a trabalhar aos 13 anos como “office boy“ (estafeta) em uma imobiliária e sempre gostei muito de cinema. Fazia muito teatro na escola e confesso que, no início era para ajudar nas notas, mas depois fui ganhando gosto. Eu mesmo gostava de produzir, de fazer cenário, escolher o tema. Eu era muito tímido, mas eu gostava de estar ali envolvido com aquilo que ajudava na timidez, eu vestia um personagem e ia embora. Também trabalhei em loja, fui vendedor, caixa, estoquista, trabalhei em funilaria, eu sempre trabalhei. Com 17, 18 anos eu tive vontade de estudar teatro realmente então, tive a oportunidade de fazer um curso profissionalizante e tomei a decisão de me mudar para o Rio. O processo de adaptação e de buscar uma oportunidade de trabalho foi bastante difícil. Eu não tinha dinheiro, ficava em casa de amigos e sempre batalhando, sempre estudando. Andava de ônibus (autocarros) para cima e para baixo, morava longe, mas não podia desistir do meu sonho. Eu fui para lá com o propósito de ser ator, não de televisão, mas de ser um ator formado e foi dando certo. Depois de cinco anos eu entrei na TV Globo e estou lá há 21 anos.
Seu primeiro papel de destaque foi em 2002 em Malhação, como Pedro. Quais suas maiores memórias daquela época? Tem contato com o elenco? O que mais te marcou?
Em 2002 eu fiz Malhação, já tinha feito cinco novelas e foi meu primeiro protagonista. Eu aprendi muito, como estou a aprender até hoje. Tenho contato com o elenco, com a direção, inclusive, o diretor artístico da minha novela hoje, a Malhação, depois de 18 anos, era assistente de direção na Malhação quando eu era protagonista e aí você vê como o mundo dá voltas. Então, foi muito bacana! O que mais me marcou? Eu não tinha a noção de aquilo iria ficar para a história como ficou. Nos 26 anos de Malhação, a edição em que eu fiz o Pedro é uma das três maiores audiências da história. Sucesso no Brasil e em Portugal. Isso me marcou muito. Até hoje eu sou lembrado por muita gente da época em que eu fazia o Pedro, par da Júlia. Nas redes sociais, quando eu posto, a foto que mais dá comentário é a da época dessa Malhação.
Sua carreira é repleta de trabalhos como protagonista. Além do Pedro, qual te enriqueceu mais como profissional?
A minha carreira é repleta de trabalhos diferentes. Já atuei como protagonista, antagonista, fiz vilões, mocinhos, todo trabalho me enriqueceu de alguma forma. Eu falo que são todos filhos e que eu não consigo amar um mais que o outro. Cada um no seu momento. Eu acho que minha carreira foi pautada de trabalhos no momento certo, no tamanho certo, não foi nem uma coisa que eu não estivesse preparado para executar, eu tive minha experiência aos poucos com cada um.
Já trabalhou como mocinho e vilão. Qual prefere? Por quê?
Depende do momento em que eu estou vivendo. Tem horas que eu tenho vontade de fazer um vilão, tem hora que dá vontade de fazer mocinho, que é muito difícil. O vilão te dá mais oportunidades, os mocinhos hoje em dia estão mais humanizados, ninguém é cem por cento bom, nem cem por cento mau, então a gente consegue humaniza-los mais, até para não ficarem chatos. Então, é um trabalho bem difícil de fazer. Em ‘Flor do Caribe’, por exemplo, eu era um mocinho que não era um idiota, também fazia as artimanhas para conseguir retomar a vida dele, já que ele tinha sido enganado por um amigo. Então, ele vinha com “sangue nos olhos”. Era um herói, meio anti-herói como se diz, é bem humano. Já não é mais aquele mocinho de antigamente, aquele que era perfeito.
Por que um imóvel em Portugal?
Ter um imóvel em Portugal foi uma oportunidade muito boa, que aconteceu no momento certo, um bom investimento. Sabe aquele “estar no lugar certo, na hora certa”? Foi isso. Portugal está num momento de forte atividade turística, então comprei na hora certa. Estando na Europa eu tenho a oportunidade de viajar para qualquer lugar do mundo. Eu tenho uma base ali e posso levar a minha mãe, os meus filhos, falamos a mesma língua, então, isso ajuda muito.
Qual sua opinião sobre o público português?
Eu não tenho palavras para definir o público português. Desde que eu fiz Malhação, em 2002, eu recebo um enorme carinho dos portugueses, que sempre vêm falar comigo. Teve até um episódio engraçado. Uma vez eu estava na praia e juntou tanta gente, mas tanta gente para falar comigo que eu não pude mais ficar ali, tive que ir embora. Não porque eu queria, mas porque ficou impossível ficar ali. Eu lembro disso como algo muito legal para mim. Eu tive que sair, mas saí de lá muito feliz com o tamanho do reconhecimento. Sempre que vou às entrevistas há um carinho, um respeito muito grande, uma admiração pelo trabalho que a gente faz aqui no Brasil, pelas novelas brasileiras. Sou recebido com muita educação, com muito carinho, seja pelo português que mora em Portugal, quanto pelos que moram no Brasil.
Praticou escalada em Terras Lusitanas. É aventureiro? Que outros esportes pratica?
Eu faço luta, jogo tênis e faço mergulho, que é considerado um esporte radical. Eu fiz rapel no Gerês, nunca tinha feito. Fui com uma equipe que está acostumada, foi muito bacana, com toda segurança, foi bem legal! O turismo fora da rota é algo em que se deve investir e eu quero investir cada vez mais nisso. Eu acho que isso tem um espaço cada vez maior, tem um público que já viajou o mundo, que conhece as grandes capitais e que quer conhecer outros locais. Lugares pitorescos, que tenham história diferentes, que como o próprio nome já diz: são fora da rota. Isso para mim é muito bacana. Eu já viajei bastante , sei que ainda há muito a conhecer, o mundo é gigante, mas eu adoro o turismo fora da rota, de conhecer lugares e indicar para as pessoas. E, eu indicaria essa rota pelo Gerês, indo ali até a Galiza, pelo circuito das águas, as cachoeiras, um lugar muito bonito e que é pouco procurado pelo turista que vem de fora a não ser pelos próprios portugueses.
Você fala abertamente sobre sua fé. Qual a importância da espiritualidade em sua vida?
Espiritualidade, religião, acreditar em Deus, a fé é o que me move. Tenho fé em outras vidas e que a gente está aqui para evoluir. É nisso que eu acredito! E, tentar fazer o máximo de bem para o seu próximo e para você mesmo para você evoluir como ser humano nesse plano e no outro. Essa fé é a que me move na vida em todos os sentidos.
Arizona, Lisboa, Noronha… já está vivendo dentro do avião? Como você concilia o trabalho e a família?
Eu tento encontrar um equilíbrio. Para mim são dois trens que precisam andar lado a lado nos trilhos: a vida social e a vida do trabalho. Se eu não tiver focado nos amigos e na família, na vida social, eu vou ficar devendo no meu trabalho, não vou estar completo. A mesma coisa, se eu ficar só focado no trabalho e não tiver espaço para a minha vida social. Eu não vou ficar feliz. Tem gente que consegue ser workaholic total ou ser mais desapegado do trabalho e passar mais tempo com os amigos, mas eu preciso ter um certo equilíbrio e esse equilíbrio não é fácil, mas é uma batalha e eu tenho que me virar em mil para poder conciliar tudo isso e ainda ter tempo para mim, que eu uso muito isso em viagens.
Falando em família… pretende se casar novamente? E ter mais filhos?
Pretendo me casar novamente, sim. É um projeto que eu tenho. Tenho vontade de ter uma família, uma família “tradicional”: ter a minha casa, meu filho morando comigo, com a minha mulher … coisa que eu ainda não vivenciei. Pode ser um sonho, mas eu não vivi isso ainda e eu quero viver. Quero experimentar esse tipo de relacionamento com a pessoa certa, na hora certa, no tempo certo, com a maturidade certa, para dessa vez não errar novamente, ou, pelo menos, fazer de tudo para que dê certo, de uma forma mais madura.
O que significa a paternidade para você?
Na paternidade, eu tento sempre passar os valores que eu aprendi com minha família, que eu aprendi na minha carreira, de ser profissional, de respeitar as pessoas, de no meu trabalho ser o mais profissional possível , de estar no horário certo, de saber conviver com as pessoas, enfim, tento passar para eles as dificuldades da vida, que é preciso ter humildade, que pela minha profissão eles têm certas facilidades, mas que amanhã pode não ter, para ir atrás das coisas deles, para dar valor aos valores da vida. A paternidade é uma coisa inexplicável, era um sonho que eu tinha depois que perdi meu pai e era quase uma obsessão ser pai e eu queria muito realizar esse sonho e realizá-lo ainda novo para poder curtir os meus filhos o maior tempo possível.
Como é Henri Castelli no amor? O que é importante para você em um relacionamento?
No amor eu sou totalmente entregue, sou romântico, sou apaixonado, quero que as coisas deem certo, mergulho de cabeça. Eu procuro pôr a mulher que está ao meu lado em um pedestal, quero que ela seja minha parceira e também sou parceiro em tudo. Eu acho que é isso. Essa parceria, se conectar, um ajudar o outro e prosperar juntos. Confiança e admiração são duas coisas que tem que ter muito em um relacionamento.
Por que decidiu investir na Gastronomia aqui em Portugal? Pode nos contar um pouco sobre a proposta do seu restaurante?
Eu amo a gastronomia portuguesa. Amo as comidas, amo os vinhos, amo tudo em Portugal. O bacalhau é o meu prato preferido e os vinhos portugueses são os meus preferidos. O restaurante surgiu da minha amizade com pessoas que conheço há muitos anos, recebi algumas propostas e por que não? Não é mesmo? Por que não tentar esse ramo em Portugal? Com o turismo crescendo bastante, achei que investir em um restaurante poderia ser uma experiência bacana, em outro país, onde eu já tenho uma casa, então ter um negócio seria bem interessante e estou me aventurando. Resolvi experimentar e pode dar muito certo.
Depois de anos, volta a Malhação. Qual a sensação de estar de volta? Pode falar um pouco sobre seu personagem?
A sensação de estar de volta à Malhação é maravilhosa. Eu estou me vendo naqueles jovens, aprendendo com eles a cada dia, voltando a trabalhar de uma forma diferente. As câmeras da Malhação têm um formato diferente de gravar, tecnicamente falando, em que você volta a aprender muita coisa. Estou trabalhando com a Mariana Santos, que é uma comediante sensacional, que está me ensinando muita coisa e junto com os jovens que são cada um melhor que o outro. Tem muita gente que trabalhou comigo na outra temporada, então, é uma alegria ir para o trabalho. Eu vou trabalhar feliz da vida e não quero que acabe. Era um projeto meu de voltar para a Malhação e eu consegui encaixar isso nos horários entre uma novela e outra. Eu estou muito feliz, é um projeto de realização pessoal e do lado emocional. Como eu fiz um protagonista jovem, voltar no elenco adulto, que é como eles chamam, é muito bacana.
Quais são seus próximos projetos? Envolvem Portugal?
Meu projeto maior é fazer a Malhação da melhor maneira possível. Me entregar cem por cento neste projeto. Não vou fazer nada em paralelo, porque eu quero estar completamente envolvido em Malhação. Tem que ser aquilo que eu havia dito do lado social e do lado do trabalho e ainda tem que ter um tempo para mim, para eu ficar bem com meus amigos e relaxar a cabeça. É um trabalho muito puxado, muito desgastante e que eu quero fazer da melhor maneira possível.
Que dica daria aos artistas iniciantes?
A minha dica para os artistas iniciantes é saber que a vida de ator não é fácil, a gente convive o tempo inteiro com insegurança em relação a trabalho, em relação a muita coisa. Então, a dica é ter a certeza daquilo que você quer, ter determinação e foco. Tentar ser profissional, se profissionalizar desde o começo. É preciso descobrir se você tem amor pela profissão, porque é muito difícil! Mas, se é isso mesmo que você quer, vá! Vá com foco, determinação e não desista porque você vai conseguir pois você está colocando amor e paixão naquilo que você faz.
Como você se sente, como padrinho de uma associação de apoio à comunidade luso-brasileira em Portugal?
Sinto-me extremamente feliz e honrado. Há muito tempo visito Portugal e sempre vejo nossas novelas nas televisões daqui. Além disso, eu já morei no exterior e sei o quanto é importante o espírito de comunidade de quem mora fora pois sentimos falta das comidas, dos amigos e da família. Ser padrinho da Associação UAI é uma honra pois é uma forma de agradecer e retribuir o carinho que sempre recebi dos brasileiros e dos portugueses. Ser padrinho agrega valor a tudo isto e dá um atestado da importância da existência desse espaço oferecido pela UAI que é, na realidade, uma referência onde o brasileiro pode sentir-se um pouco em casa e onde os brasileiros e portugueses podem ajudar uns aos outros. Isto faz toda a diferença para quem, como eu, já foi um imigrante.