Pedro Carvalho

Pedro Carvalho

Aos 33 anos, o ator português Pedro Carvalho coleciona papéis emocionantes. Prestes a estrear num novo projeto, conta ao Olhar Brasileiro sobre as experiências no Brasil, vida pessoal e perspetiva o futuro.

Como era o Pedro Carvalho antes da fama?

Sempre fui um jovem muito ligado ao mundo das artes. Sempre gostava de desenhar, fazia teatro na escola, customizava as minhas próprias roupas, gostava de exposições… Quando o meu pai ia em viagens de trabalho, a minha mãe aproveitava para me levar ao Museu do Louvre, em Paris, ou a exposições em Espanha, por exemplo. Mesmo em Portugal fazíamos muitos passeios turísticos, em que ela sempre incentivava esse meu gosto pela arte. É engraçado que, olhando assim mais distante, parece que já estava predestinado. Fiz o conservatório de guitarra clássica durante alguns anos, então a parte artística sem que os meus pais percebessem, era algo que sempre esteve muito presente na família, apesar de ninguém ser artista. Eu sou o único que teve essa paixão e a seguiu.

Sempre tive essa ambição, sonho e gosto por este mundo, não especificamente o teatro, o cinema, a televisão, mas a arte em geral. Com o tempo o sonho foi-se concentrando mais na representação. Eu acabei por tirar o curso de Arquitetura e ao mesmo tempo tirei o de Artes Cénicas. Depois, a vida levou-me a seguir a carreira de ator.

Sempre pensou em fazer novelas?

Sim, essa pergunta é muito engraçada, porque eu sempre vi novelas brasileiras lá em casa e entrava tanto na história que me imaginava a fazer aquilo, por isso imitava os personagens e alguma coisa dentro de mim dizia “Ó pá, um dia vou estar ali a fazer isto”. Acho que representar sempre foi um sonho, uma ambição e foi acontecendo naturalmente.

Que trabalhos o marcaram mais em Portugal?

Aqui em Portugal houve vários trabalhos que me marcaram. Uma novela que fiz de nome “Remédio Santo”, na TVI, em que eu fazia um dos protagonistas. Nesse ano ganhei o prémio de “Melhor Ator de Televisão”. Essa novela esteve nomeada para um EMMY e foi um trabalho que me marcou muito. O meu personagem chamava-se Ângelo. Tinha o cabelo comprido, vestia-me todo de branco e falava com os animais… era um personagem muito bonito e que tinha aquela infantilidade muito presente, apesar de ser um adulto. As pessoas acolheram com muito carinho e eu adorei fazer. Depois também participei em “O Beijo do Escorpião”, outra novela das nove. Foi a primeira vez que se retratou um casal homossexual sem quaisquer trejeitos que se conotassem ao feminino. Apesar de ser controverso e polémico, ainda hoje recebo mensagens do mundo inteiro, pois acabaram por compilar a história do meu personagem na internet. Internacionalizou, ganhamos prémios e foi uma referência para vários países. É bastante arriscado, como já percebeste, pois são personagens que não têm nada a ver comigo e eu gosto disto. Gosto de me transformar nesse camaleão. São os trabalhos que correm melhor e me dão maior gosto de fazer. Esses marcaram-me, desafiaram-me e permitiram-me dar um salto na carreira, para mostrar que consegui ir mais além. Espero mais desafios.

O Brasil sempre esteve nos seus planos?

O Brasil sempre foi um sonho, é verdade, mas eu sempre tive aquela vontade de chegar aos 30 anos e extravasar um bocadinho. Internacionalizar a minha carreira. Como falo espanhol fluente, estudei na escola de atores do Javier Bardem, sempre imaginei que iria primeiro a Espanha e depois para o Brasil, mas o Brasil aconteceu em primeiro lugar e espero que permaneça por muitos anos. A Globo, quero firmar e a Netflix, nunca trabalhei, mas é uma meta que quero atingir.

“O Outro Lado do Paraíso” foi a sua primeira novela no Brasil?

“O Outro Lado do Paraíso” já é a segunda novela. A primeira foi em 2015, “Escrava Mãe”, em que fui o protagonista. Morei em São Paulo durante um ano para gravar. Depois voltei para Portugal para uma série, um filme, fazer uma peça e após tudo isso entrei na novela das 9, a “Ouro Verde”, que está nomeada para um EMMY. Somente a seguir é que tive o convite para fazer “O Outro Lado do Paraíso” do Walcyr Carrasco. Trabalhar com todo aquele elenco foi um sonho tornado realidade. A experiência foi mais que boa, foi incrível e espero que se repita.

O seu personagem sofreu uma reviravolta. Como foi para si trabalhar essa mudança? E como foi a preparação para interpretar um cego?

Inicialmente eu só ia fazer 60 capítulos da novela, mas o público gostou tanto do Amaro que o autor acabou por inventar mais história e colocou uma carga dramática “gigante” no personagem e que ninguém estava à espera. Por baixo daquela futilidade dele, vaidade, vilania, entrou esta camada mais dramática e que para mim foi a cereja no topo do bolo, pois pude trabalhar bastante essa parte visceral, mais sem chão. Trabalhei bastante. Nunca tinha feito um cego e foi incrível. Desde a caracterização às lentes que usava foi um cuidado incrível da chefe de caracterização. A própria Globo deu-me um suporte maravilhoso na fundação de cegos lá no Rio de Janeiro. Tive uma preparadora e conversei com muitos cegos Foi um “laboratório” incrível. Desenvolver este trabalho foi sem dúvida o maior desafio que já tive. Os dois maiores desafios da minha carreira foram no Brasil, nessas duas novelas.

Qual a maior diferença entre fazer novelas em Portugal e no Brasil?

Há algumas diferenças. Em Portugal temos um orçamento muito menor e com esse pouco orçamento fazemos coisas muito boas, tanto que somos nomeados para EMMYS. No Brasil existe mais dinheiro para fazer tudo, a estrutura é muito maior. No Brasil usamos cidades cenográficas. Em Portugal não se usa, gravamos em locações reais. Os cenários são muito maiores e elaborados no Brasil, a luz, o texto… leva um avanço muito maior. Portugal imitou os brasileiros na arte de fazer novelas e é este avanço que eu sinto no Brasil em relação a Portugal.

Que aprendizagem leva de “O Outro Lado do Paraíso”?

Levo um aprendizado sem fim. Além de ter trabalhado com atores incríveis, generosos e maravilhosos, foi mais um passo na minha carreira. E que seja sempre a subir. Foi uma experiência muito boa e aprendi bastante, sobre tudo, não só sobre representação, mas sobre humanismo, pois o nosso trabalho é com seres humanos. Viver das suas experiências, cultura e sensibilidades diferentes. Cada personagem traz um ensinamento e o “Amaro” é bastante rico, não só por tudo o que ele passou, mas pela transformação que sofreu ao longo da novela.

Qual a característica do povo brasileiro que mais lhe agrada?

Várias. Eu adoro o povo brasileiro, amo o Brasil, sinto-me completamente em casa e é difícil citar somente uma característica. É um povo muito alegre, mais espontâneo, sincero e ousado. Fala o que tem a dizer e com o coração. Tem as emoções na boca e eu gosto disso.

Elegeu alguma comida brasileira como favorita?

Várias! A comida do Brasil é incrível! O churrasco é maravilhoso. Não há carne como a picanha brasileira e principalmente a doçaria. Adorei o brigadeiro! Nunca comi bolo de chocolate e brigadeiro tão bons quanto comi no Brasil e eu gosto bastante de doces. O doce de leite também, que
não conhecia. Elejo a doceria.

Teve alguma dificuldade de adaptação?

A adaptação foi muito fácil. Isso até me surpreende, pois eu sou muito ligado à minha terra e rapidamente criei as minhas raízes no Brasil e até parece que já tinha vivido ali outras vidas. A adaptação foi facílima.

Sonha em trabalhar com algum autor em especial?

Sim. Sou muito fã do Walcyr Carrasco como já disse no passado e adoraria voltar a trabalhar com ele. João Emanuel Carneiro é outro autor com quem sempre quis trabalhar. Daniel Ortiz, que tem muito sucesso com as novelas das sete. Acho a dupla Alessandro Marson e Thereza Falcão muito boa, fizeram muito sucesso com a novela “Novo Mundo” e também gostava de poder um dia trabalhar com eles.

Tornou-se o “queridinho das brasileiras”. Está solteiro? Acha que com os inúmeros projetos tem tempo para o amor?

Ainda bem que me tornei o queridinho das brasileiras e espero que isso aumente ainda mais! Que me torne o queridíssimo das brasileiras! De todos do Brasil! Estou solteiro e muito focado na minha carreira profissional. De momento, este é o meu foco principal.

O que é necessário para conquistá-lo?

Honestidade, sentido de humor, saber rir de si própria, ser leve, inteligente… e basicamente é isso.

Das suas atividades diárias, de qual não abre mão?

Não abro mão de fazer exercício físico todos os dias. Não só por causa da imagem, mas principalmente pela saúde. Se ficar sem exercício, o dia já não rende da mesma maneira. Neste momento estou muito ligado à modalidade de Crossfit, mas gosto de fazer desporto no ginásio, de fazer natação e se puder correr à beira da praia melhor ainda, fazer aula de cycling… São atividades que eu não dispenso mesmo.

Como está a ser o retorno a Portugal? Voltou definitivamente ou continua a fazer a ponte?

O retorno foi bom. Ainda estou em “jet lag”, mas consegui rever alguns amigos, família, as minhas sobrinhas que tinha muita saudade e amigos mais chegados. Já comecei a gravar uma série de época e estou só em ponte aérea. Vim só fazer este trabalho e já regresso ao Brasil no final do mês de Dezembro para avaliar algumas propostas que logo saberão.

Está no elenco da série “Terra Nova”. Pode contar-nos um pouco mais
sobre o seu personagem?

Sim. A série é do conceituado diretor Joaquim Leitão e o meu personagem é o Nunes. Passa-se nos anos 30, onde era presente a ditadura de Salazar. Conta vivências em paralelo de um grupo de pescadores e de quatro amigos que lutam pela democracia do país, são liberais e tentam lutar contra o regime. O meu personagem é o mais rebelde, o mais revoltado com o sistema e que vai pertencer a um grupo de jovens que trabalham na tipografia para lançar notícias a incentivar as pessoas a lutarem contra o regime. Vai fugir da polícia política, ser torturado, fugir da prisão… é um personagem bastante intenso e que deixa uma mensagem fortíssima. A Revolução de 25 de Abril foi um marco muito grande na nossa cultura. Não foi assim há tantos anos. Os meus pais e avós passaram por isso e foi-nos incutido na nossa educação. Preservamos muito os valores da democracia em Portugal e é um prazer fazer parte e ajudar a contar essa história, que foi tão importante.

A preparação para viver um personagem de época é diferente de um contemporâneo?

Completamente diferente, até pelo vocabulário. Estamos muito familiarizados com o vocabulário das redes sociais e nessa altura não havia nada disso, nem telemóvel. Então, é muito diferente forma de falar, de estar, os ideais. Sendo assim é um prazer, pois é uma composição e eu adoro fazer personagens de composição e adoro fazer época.

Que recado deixa para os seus fãs brasileiros e portugueses?

Primeiro, obrigado pelo carinho e por me acompanharem nesta trajetória, que nem sempre é fácil, mas a força de todos eles torna-me mais leve. Até pelas redes sociais onde recebo mensagens carinhosas para continuar em frente, para não desistir dos meus sonhos e conseguir fazer cada vez melhor e mais. Vocês são o combustível para eu chegar cada vez mais longe e espero poder retribuir sempre o carinho que me dão. Continuem a gostar de mim!