Francisco Mota
“Os jovens de Braga estão abertos para o mundo como Braga está aberta para os jovens do mundo”
• Ruy Generoso •
A trabalhar com a Juventude de Braga desde 2007, Francisco Mota aponta uma perspectiva contemporânea dos jovens Bracarenses.
Gostávamos que falasse-nos sobre a sua representação em relação aos Jovens de Braga?
Tenho o privilégio de estar a liderar a juventude bracarense desde 2007 quando assumi a JP, após minha entrada na academia no Porto. Lá fui Dirigente Associativo e tive a oportunidade de crescer muito dentro da Academia em minha formação humana e destaco algo que foi muito importante para toda minha vida que foi ter estudado 4 anos para Padre. Devo muito do que sou hoje a esta casa de formação de homens, a este seminário. Esta formação difere em muito do que se imagina. Muito da minha formação junto à juventude deve-se ao Movimento Associativo Local do qual sempre estive presente. Desde a tenra idade fui escuteiro católico. Desde lá meu envolvimento com a juventude foi sempre total, sou um cristão convicto e defendo de uma forma clara a doutrina social da igreja sendo a favor da vida. Sempre aceitei muito bem quem pensa diferente de mim, porém sou um conservador, um católico convicto, projeto a família como algo fundamental para a sociedade, acredito na liberdade de escolha.
Você tem atuação como delegado na Assembleia de Juventude das Nações Unidas. Como é a imagem dos jovens portugueses fora de Portugal?
Como tudo, a comunidade brasileira vai ter a oportunidade de ter sua radiografia, entretanto eu acredito que nós portugueses, muitas vezes temos uma percepção muito má, achando que só os outros que são bons, nós nunca valemos nada, mas quando vamos lá para fora somos nós que damos as cartas. Na juventude acontece da mesma forma, é inacreditável quando vamos lá para fora e vemos em comparação a qualidade no nosso capital humano. No momento que estamos em um outro país percebe-se que perdemos para fora os melhores, e olhamos para um país que não se importa em perder os melhores, haja vista termos uma juventude bem preparada, com escolas e uma formação de qualidade. O jovem português consegue se reinventar e para onde vai consegue se destacar.
Os jovens de Braga, pelo que você vê tem ainda a ambição de sair do país ou gostariam de ficar em Portugal?
No final de 40 anos de democracia temos uma geração que dispõe das melhores ferramentas para seguir na vida, o país deu a nós, a esta geração, uma qualidade muito melhor do que deu antigamente para nossos pais. Desta forma a minha geração tem uma responsabilidade muito maior e tem uma obrigação em acreditar mais em Portugal, sei que é difícil e complicado, porém temos que dar nosso contributo, e investir em ficar. O ambiente de Braga é distintivo do restante do país, permite que aqui seja uma das cidades mais jovens de Portugal, a proximidade com a academia, o momento econômico que Braga vive. Naturalmente os jovens preferem ficar em seu país, porém cada vez mais percebemos que não existem os jovens de Braga, ou jovens do Porto, os jovens de Paris ou os jovens de Bruxelas, pois não existem as barreiras que existiam antes, já não existem tais coisas. Os jovens de Braga estão abertos para o mundo como Braga está aberta para os jovens do mundo.
Braga é uma das cidades mais jovem de Portugal. É possível dizer o número ou o percentual de jovens no Concelho de Braga?
A relação que nós temos é de que 60% da nossa população é abaixo dos 45 anos, o que significa que nós compartimos claramente um ciclo nacional do ponto de vista demográfico que é o envelhecimento da população portuguesa, Braga mostra a diferença até mesmo quando se olha para a taxa de natalidade que ano passado foi a maior do país. Importante também as comunidades internacionais que têm chegado ao país e principalmente a Braga, como o caso dos brasileiros que a pouco em uma reportagem de um jornal do Brasil, dizia que Braga era o “El Dourado” da comunidade brasileira em Portugal.
Qual é o impacto desta juventude na dinâmica da cidade?
É total e deveria ser um bom exemplo a ser replicado por todo o país. Sendo uma cidade tão antiga, por aqui passaram todas as eras e fixaram vários povos. Porém, maior motor que a cidade tem é a sua própria juventude, a fazer a diferença em áreas como ciência, inovação e educação com a universidade do Minho, na área do desporto com atletas de alto gabarito sejam olímpicos ou de seleção nacional, seja no mérito escolar com escolas de nível nacional e internacional do topo. Temos uma certeza, que ao olharmos para o passado construímos o presente e de olhos postos para o futuro. Braga é uma cidade que através de seus jovens se reinventou. Ressalto que é importante a boa relação entre os mais velhos e os mais jovens. Só assim constrói-se um futuro alicerçado na experiência, mas ao mesmo tempo com audácia.
Como é ser jovem em Braga?
Ser jovem em Braga é desafiante e diferente do resto do país. Eu tenho a oportunidade de ser dirigente nacional desde 2008 e acredito que olhamos o mundo de forma diferente. Braga é um território onde a câmara municipal não é o principal empreendedor, onde os serviços públicos não são o maior empregador, onde a iniciativa privada assume um papel preponderante no desenvolvimento do território onde existe um ambiente empresarial diferenciador do país, onde os jovens não estão amarrados ao clientelismo público mas vivem livres para escolherem o que gostam e desafiam o amanhã. Portanto é um ambiente muito próspero e desafiante. É uma responsabilidade, mas nós vivemos muito bem com isso.
Quais os desafios dos Jovens de Braga?
O maior desafio é o envolvimento, porém não apenas dos jovens, mas de todos nós, de toda a cidade. Precisamos dar continuidade à forma de pensar mudando os focos de tempo e tempo. O jovem é um ser desafiante, desafiado e motivado por natureza. Portanto, a cidade é que terá que se adaptar à nova mentalidade imposta pelos jovens.
Qual é a percepção dos jovens Bracarenses sobre a grande chegada de imigrantes na cidade de Braga?
Respondo esta questão com uma pergunta. Qual é o principal motivo das pessoas escolherem Braga? Eu vejo que é por conta das pessoas, Braga tem uma relação diferente com as pessoas. Aqui fazemos de nossas vitórias ponto de partida para novas conquistas. Não nos acomodamos. As pessoas que chegam percebem como Braga recebe de forma diferente, com empreendedorismo, com a possibilidade de pessoas poderem trabalhar em suas especialidades. É também a diversidade da cidade, além da ciência e inovação gerada por importantes institutos como o INL e a Universidade do Minho que tem hoje cerca de 6 mil estudantes oriundos de comunidades portuguesas. Braga segue sendo uma cidade que olha para o amanhã do país, uma cidade segura, uma cidade segura para os empresários. Os jovens de Braga olham para estas comunidades como uma oportunidade e pensam que quem vem paro o bem, bem recebido é. É uma oportunidade de crescimento da cidade. O posso dizer, os bracarenses recebem com muito orgulho, com os braços abertos e com a vontade de os fazer sentir em casa.
E como tem se dado esta integração?
Tem se dado de uma forma mais fácil do que eu estava a espera. Eu acredito no modelo do movimento associativo, feito de base, creio que não há nada como uma associação como a UAI para ajudar nisso, com uma forma desprendida e associativa e próxima de outras organizações, sejam elas públicas ou privadas.
E como os jovens estrangeiros podem contribuir para melhorar esta integração, ou seja, o que é que os jovens Bracarenses esperam de nós brasileiros?
Que todos se deem para se integrar, não impor sua cultura, e sim se integrar, ter espaço em sua comunidade sim, porém participe dos movimentos de forma a integrar na cultura de nossa região, fazendo diferença participando da política, da sociedade e dando sua contribuição e continuidade na comunidade de Braga. Meu desafio aos jovens imigrantes: Participem da vida política da cidade, pois são os jovens que podem fazer a diferença para o futuro de um país melhor. Esperamos que os jovens imigrantes se liguem a esta terra dando um pouco de si para fazer a diferença com esperança e um sentimento de que pertencem a algo em prol da comunidade de Braga.
Cada vez mais percebemos que não existem os jovens de Braga, os jovens de Paris ou os jovens de Bruxelas, pois não existem as barreiras que existiam antes
Braga tem uma relação diferente com as pessoas, os bracarenses recebem com muito orgulho e com os braços abertos.