O Legado do Criador do Jiu-Jitsu Brasileiro
“Emprega o maior tempo no aperfeiçoamento de ti mesmo, e nenhum tempo em criticar os outros.”
Carlos Gracie
No dia 7 de outubro de 1994, falecia Carlos Gracie, o homem responsável por transformar o jiu-jitsu em um dos esportes mais representativos do Brasil e dar origem ao estilo que hoje conhecemos como jiu-jitsu brasileiro. Sua vida e legado continuam influenciando atletas e entusiastas das artes marciais em todo o mundo, incluindo Portugal, onde o esporte tem crescido significativamente nas últimas décadas.
O Início de uma Lenda
Nascido em 1902, na cidade de Belém do Pará, Carlos Gracie cresceu em uma família numerosa. Ele foi o primeiro dos oito irmãos Gracie a se interessar pelas artes marciais. Sua jornada no jiu-jitsu começou quando, aos 15 anos, Carlos passou a ter aulas com o mestre japonês Mitsuyo Maeda (também conhecido como Conde Koma), que havia migrado para o Brasil.
Maeda era um judoca e lutador de jiu-jitsu que ensinava técnicas de combate do tradicional Jiu-Jitsu Kodokan, oriundo do Japão. Sob a tutela de Maeda, Carlos rapidamente se destacou, absorvendo não apenas os ensinamentos marciais, mas também os princípios filosóficos da arte.
A Criação do Jiu-Jitsu Brasileiro
Após dominar as técnicas de Maeda, Carlos Gracie começou a ensinar jiu-jitsu em sua própria academia no Rio de Janeiro, ainda nos anos 1920. No entanto, ele e seus irmãos, especialmente Hélio Gracie, passaram a adaptar e modificar o jiu-jitsu tradicional, levando em consideração o físico dos brasileiros. A família Gracie aprimorou as técnicas para que pudessem ser usadas com eficiência por pessoas menores ou mais leves, destacando o uso de alavancas, quedas, finalizações e posições de domínio no solo. Assim, nascia o Jiu-Jitsu Brasileiro (BJJ), um estilo mais acessível, defensivo e adaptável.
O Desafio Gracie e a Ascensão do Nome
Para provar a eficiência da nova arte marcial, Carlos Gracie desenvolveu o famoso “Desafio Gracie”, no qual ele e seus irmãos se ofereciam para lutar contra praticantes de outras modalidades, como boxe, luta livre e capoeira. Essas lutas, muitas vezes realizadas em público e com grande atenção da mídia, ajudaram a elevar a fama do jiu-jitsu brasileiro e consolidar o nome dos Gracie no mundo das artes marciais. Ao longo dos anos, o “Desafio Gracie” se tornou lendário, pois os irmãos Gracie geralmente venciam seus oponentes, demonstrando a eficácia do BJJ contra lutadores de estilos mais conhecidos e tradicionais na época.
A Filosofia Gracie
Carlos Gracie não se dedicou apenas ao aperfeiçoamento do jiu-jitsu. Ele também desenvolveu uma filosofia de vida que integrava o corpo e a mente. A Dieta Gracie, por exemplo, é uma de suas criações mais conhecidas, baseada em princípios de nutrição que buscavam melhorar a saúde física e o desempenho atlético. Para Carlos, a prática do jiu-jitsu era uma forma de autocontrole, disciplina e respeito ao próximo.
Ele sempre acreditou que o jiu-jitsu deveria ser mais que uma luta, mas uma maneira de ensinar as pessoas a superarem desafios físicos e mentais.
O legado Imortal
O legado de Carlos Gracie vai muito além de sua própria trajetória. Ele plantou a semente de um estilo de luta que hoje é um dos pilares das artes marciais mistas (MMA), sendo amplamente praticado em academias ao redor do mundo. O BJJ se tornou uma referência global de eficiência no combate corpo a corpo, e competições internacionais como o ADCC (Abu Dhabi Combat Club) e o Mundial de Jiu-Jitsu são algumas das principais vitrines do estilo.
Seus filhos, netos e bisnetos continuaram a propagar o jiu-jitsu pelo mundo, e muitos membros da família Gracie se tornaram campeões e mestres respeitados. Um dos exemplos mais proeminentes desse legado é Royce Gracie, que foi uma figura central nas primeiras edições do UFC (Ultimate Fighting Championship), ajudando a popularizar o jiu-jitsu brasileiro no cenário global das lutas.
O Jiu-Jitsu Brasileiro em Portugal
Em Portugal, o BJJ chegou em 1996 pelas mãos do professor Lauro Figueirôa, que tinha como objetivo difundir o jiu-jítsu Gracie. Com o crescente interesse por artes marciais e o MMA, muitos atletas portugueses começaram a adotar o jiu-jitsu como base de treinamento, e várias academias especializadas no esporte surgiram no país.
Logo foi criada a federação portuguesa de Jiu-Jitsu Brasileiro, que foi fundamental para profissionalizar o
esporte e estabelecer um sistema de graduações, torneios e regulamentos que asseguram a prática segura e técnica do esporte no país.
30 Anos Após sua Morte
Carlos Gracie não foi apenas um lutador ou um professor de jiu-jitsu. Ele foi um visionário, cuja influência moldou profundamente as artes marciais e o modo como o combate é visto. Sua criação, o jiu-jitsu brasileiro, continua sendo uma das formas mais eficazes de autodefesa e uma ferramenta poderosa de transformação pessoal.
Ao comemorarmos 30 anos de sua morte, em outubro de 2024, a memória de Carlos Gracie permanece viva em cada tatame, em cada academia e em cada lutador que escolhe o caminho do jiu-jitsu. Seu legado é uma inspiração não apenas para praticantes de artes marciais, mas para todos aqueles que acreditam no poder da dedicação, disciplina e na busca incessante pela excelência.