Perdão para Quem?
Perdão é um ato profundamente humano, mas não é raro que grande parte das pessoas, tenham dificuldades em perdoar. Isto ocorre, pois, algumas pessoas confundem facilmente o perdão como um favor ao outro, algo que deve ser merecido ou conquistado. Grande erro pensar assim, engana-se quem acredita que o perdão é a consequência de um arrependimento ou reparação anterior. O perdão é justamente a expressão máxima do ser humano, porque ele exige o exercício das faculdades da vontade e da liberdade, que são exclusivas do ser humano. Não é uma reação plausível ou adequada, perdão é na verdade um absurdo. É insuportável pensar em perdoar aquele que te fez mal, que te ofendeu, ou lesou você de alguma forma. O esperado seria vingar-se, dar o troco ou no mínimo enclausurar o algoz a padecer no próprio erro, decretando a impossibilidade de ele se livrar do mal que lhe causou.
A verdade é que na realidade material, tudo o que vai, volta, esta é a terceira lei de Newton, conhecida como lei da ação e reação, afirmando que, para toda força de ação que é aplicada a um corpo, surge uma força de reação que tem a mesma intensidade da força de ação, atuando na mesma direção, mas com sentido oposto. Ou seja, todo o mal feito, volta com a mesma intensidade. Assim, nos acostumamos que todo erro tem de haver punição, essa é a lei da realidade material, se fez uma ação mal, deve pagar/sofrer da mesma forma. Conhecemos o mundo por essa perspetiva, porém, reduzir o ser humano a realidade puramente material, o reduz à uma dimensão inferior ao qual é chamado, portanto, fonte de adoecimento. Viver algo que não é adequado à sua própria natureza. Sendo assim, o perdão aparece como uma ferramenta de saúde mental. Uma vez que o perdão, contempla a dimensão da transcendência do ser humano, sua capacidade de ser livre diante de qualquer circunstância.
O perdão não apenas é uma possibilidade de libertar outro ser humano do mal que ele lhe fez, mas também é uma forma de você conseguir seguir sua vida independentemente do que fizerem a você. Isto é, de não manter sua mente e suas ações presas à pessoas que te ofenderam. Portanto, o perdão é algo que faz muito bem a você!
Não perdoar o outro, não é uma forma de lhe castigar pelo mal feito, antes disso é uma escolha de lhe condicionar e lhe aprisionar na dor que lhe foi causada, deixando você cristalizado em um momento, ao qual sofreu uma injustiça. O que você faz com aquilo que lhe fizeram, apenas é uma escolha sua! Está nas suas mãos deixar essas feridas cicatrizarem, ou esforçar-se para mantê-las abertas, a fim de que este “sofra” pelo mal que lhe fez!
Neste caminho, é você quem está escolhendo tornar um momento de infelicidade, em uma vida inteira. O perdão não altera o passado, mas ele liberta o futuro, porque o rancor é como um veneno que vai inflamando o seu coração com o passar do tempo. Quando não perdoa, sofre, não apenas emocionalmente, pelo estresse e tristeza, mas fisicamente, pois desgasta as energias, e também espiritualmente, pois você está negando a sua própria transcendência, não agindo com toda a sua dignidade e capacidade de amar. Você se torna assim, aos poucos em seu próprio sofrimento.
Muitas vezes aquele que te ofendeu até se arrepende, e até pediu perdão a você, ou talvez a Deus, e ele está livre para seguir adiante. Mas sua ação de perdoá-lo ou não, independe do arrependimento, porque você é livre, você não está preso na ação e reação. Você não precisa esquecer o que aconteceu, nem concordar com o que o outro fez, e nem precisa continuar convivendo com esta pessoa, você só precisa PERDOAR. Deixar seguir ele e você, não permitir que um momento seja mais importante que uma vida inteira.
Você não pode impedir que as pessoas machuquem você, mas você pode impedir que este mal afunde você. O caminho do perdão é um absurdo aos olhos daqueles que estão muito focados na realidade material, mas aqueles que sabem como articular a matéria e a transcendência, saberá que o perdão é o único meio possível de poder salvar a si mesmo. Portanto, mesmo que pareça absurdo os olhos dos outros, não desanime no esforço de perdoar, faça este gesto por si mesmo.
Luiza Orlandi
Psicóloga Clínica
@luizaorlandi.psi