Procrastinação: Entenda esse Comportamento

Procrastinação: Entenda esse Comportamento

Mundo veloz, acelerado, inteligências artificiais à frente das possibilidades dos homens, o momento de “perdição” em meio a tantos achados, tudo a um clique, uma enxurrada de informações, a falta de curadoria das pessoas sobre suas vidas, uma cultura da felicidade, da ação, do dinheiro, da perfeição, do fazer e do resultado. A força das coisas emplaca as pessoas ao seu próprio cerne. 

Será que o que chamam de procrastinação é mesmo a falta de motivação propostas nas teorias? Será que quem não se sente motivado está a procrastinar? 

Para falarmos de procrastinação vamos também abordar a motivação.  Se a motivação é estar em cumplicidade com aquilo a que o indivíduo se propõe, então existe procrastinação, visto que a motivação é aquilo com o que o sujeito se envolve? 

Com tantas questões, considerar o que nos propomos é o X da questão para interpretar o por que procrastinamos ou nos motivamos com relação a algo. 

Apalavra procrastinação vem do latim procrastinatus: pro- (à frente) e crastinus (de amanhã). Estudos apontam que a primeira aparição deste termo consta no livro de um autor chamado Edward Hall, publicado por volta dos anos de 1548. 

Hoje em dia muitas pessoas deixam para depois aquilo que tem consciência e sabem que deve ser feito. E isso pode ser confundido com preguiça também. Porém, do ponto de vista da saúde mental a Procrastinação é um comportamento que vai trazer sofrimento à pessoa, podendo ela sentir-se ansiosa, angustiada, por não conseguir realizar determinada tarefa.  

Procrastinação é o adiamento de uma ação da qual se tem conhecimento, é o afastamento do realizável (ir deixando para depois), algo que se deve fazer por conhecimento e, por algum motivo, não se estabelece por estímulos ou por motivação internalizada.  

A máxima “não deixe para amanhã o que se pode fazer hoje” ilustra bem os dois pontos, tanto daquilo que motiva, como aquilo que faz procrastinar.  

É importante pensar que o comportamento de procrastinar nos leva a nos autoconhecer, sobretudo quando tentamos analisar as causas de não envolvimento com a tarefa, e perceber se não há vontade, nem desejo, nenhum estímulo para realizar determinada atividade, como pode ser também um comportamento crônico de procrastinar. 

Às vezes, as pessoas questionam que querem algo, mas o contexto não ajudou. Um bom exemplo dessa situação é aquele dia que o pescador está pronto para pescar, mas o mar não está para peixe, sabe? A maré está baixa, a época não é propícia. Outro exemplo que posso dar-lhes é a do plantio da agricultura. Colheita só é certa depois do plantio. Mas, sem plantar não há, certo?  Procrastinação não é o resultado em si, é a falta de movimento e ação que pode levar a um resultado.  Portanto, atrasa um resultado. Os exemplos acima são prova disso. 

O que deve ser levado em consideração é que os indivíduos que procrastinam suas atividades têm como resultados diversos sintomas que os deixam desconfortáveis, pois resulta em stress, sensação de culpa, perda de produtividade, conflitos existenciais, comparação entre resultados e até vergonha por não cumprir com as suas responsabilidades e compromissos. 

É preciso entender que, embora a procrastinação seja considerada um comportamento inerente ao ser humano, torna-se um problema quando impede o funcionamento normal das ações, pois quando a procrastinação é crônica pode ser um sinal de problemas psicológicos ou fisiológicos. 

Logo, um procrastinador é um indivíduo que evita tarefas ou uma tarefa em particular que ele compreende que deve ser feita para que se permita uma experiência e não a faz, ou seja não entra em ação. 

É possível identificar as possíveis causas da procrastinação quando entendemos o que desejamos e o que não desejamos, porém nem tudo pode ser o que queremos, mas simplesmente ser o que precisa ser feito.  

Não obstante, pesquisas demonstram que, muitas vezes, a procrastinação no trabalho, por exemplo, significa a falta de envolvimento e engajamento naquilo a que o sujeito se predispõe como apto. Causas como não se sentir envolvido ou pertencido, não compreender os objetivos reais das organizações, a cultura e os objetivos corporativos são alguns dos fatores que explicam a falta de motivação e, consequentemente, a procrastinação, o que causa grande impacto nos processos de desenvolvimento de pessoas e também corporativo. 

É imprescindível perceber os níveis de conscientização sobre o aspecto do procrastinar em si próprio, visto que além dos conceitos epistemológicos, existe também a percepção subjetiva dos indivíduos e o que acarretam de conhecimento prévio sobre o tema. Sem dúvida é mais importante a percepção de si próprio como um sujeito que procrastina, como um apontamento feito por outra pessoa.  

Sobretudo, quando o indivíduo procrastina e reconhece esse comportamento, deve-se observar o seu histórico e analisar os possíveis insucessos na sua vida e carreira, que, por hipótese, faz com que o mesmo não queira repetir as atividades e a perde-se, assim, a possibilidade de se criar percepção de autoeficácia, alterando assim seu mindset. 

Indivíduos motivados, geralmente, tem maior sensação de autoeficácia e sucesso, portanto motivam-se mais facilmente para ter mais resultados que gerem sensação e emoção positivas. 

Algumas causas devem ser levadas em consideração, como ansiedade, baixa autoestima e uma mentalidade autodestrutivas, pois pessoas com tendência à procrastinação tem um nível de consciência abaixo do normal sobre si mesmas, não se sentem prontas, baseia-se em sonhos e desejos de perfeição ou realização, em vez de apreciação realista de suas obrigações e potenciais.  

O que temos percebido, principalmente hoje, diante das redes sociais, é que as pessoas assumem uma vida baseada em ideais do ser e ter, que as colocam numa zona desconfortável de comparação com outras pessoas, status, patamares. Além da ansiedade, o autoconsumo de informação e a percepção de “não saberem nada e não se sentirem prontas” as faz procrastinar e entrar em stress e níveis altos de ansiedade. 

Perceber-se é o primeiro passo para buscar ajuda e orientação. E uma das mais recomendadas autoavaliações são as escolhas do que impacta sua vida positivamente, além da curadoria do que coloca à nossa volta. Escolher e direcionar o “como” vamos lidar pode nos colocar um passo à frente na condição de ampliar a qualidade de vida e a otimização do stress. 

Pense nisso. 

Karina Campos
Psicóloga do Trabalho e da Educação 
Mentora de Vida e Carreira 
@karinacampos.psi 

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