Pensamentos em meio à Pandemia…
Estávamos aqui, cuidando da sobrevivência, buscando caminhos e nos preparando para combater os inimigos conhecidos, com base no que já tínhamos aprendido…
Estávamos aqui, vivendo em paz com os reveses da vida…
Quando o que era considerado impossível, aquilo que parecia tema de filme de ficção, surge como um fantasma, contrariando todas as tendências, todos os sistemas de segurança e mostrando a todos que existia sim algo que era mais forte do que o poder econômico e financeiro, mais forte do que os avanços da medicina e mais imprevisível do que todos os prognósticos da atualidade.
Sabíamos que poderia acontecer, mas não agora…
Sabíamos que o futuro reservava surpresas e grandes mudanças, mas não agora…
Sabíamos que o mundo não andava bem e que precisava de uma “reforma”, mas não agora…
Enfim, de repente, aquilo que parecia fazer parte de um futuro ilusório e distante, surge no mundo, no nosso país, na nossa cidade, no nosso lar, inusitadamente unindo toda a humanidade com os mesmos problemas, temores e questionamentos, obrigando todos a se juntarem no mesmo propósito e intenção.
Os humanos espalhados por todo o planeta, independente da sua raça, partido, religião e preferências pessoais, se juntam para lutar contra algo desconhecido de quase toda a humanidade.
Se houveram ou não previsões nesse sentido, se profetas e pensadores tinham falado sobre esse acontecimento, eram assuntos tidos como previsões para um futuro longínquo, no qual não teríamos qualquer participação. Estávamos cada um levando a vida da melhor maneira possível e não contávamos com um acontecimento radical que pudesse mudar tudo, não agora.
De repente, nosso sistema de coisas parou, nossos valores ficaram balançados, as certezas se dissiparam e parece que o universo encolheu. As questões mundiais realmente importantes ficaram reduzidas a pequenos procedimentos de higiene e sobrevivência.
Passado o choque inicial e neutralizados os impactos da “novidade”, essa mudanças nos fizeram lembrar do passado e pensar no futuro, e começamos a enxergar para além dessa pandemia uma luz no fundo do túnel, uma esperança de que alguma coisa pudesse melhorar depois de tudo.
Independente dos prejuízos materiais, independente das mudanças radicais que possam ocorrer nos planos e na rotina dos homens, a idéia de “começar de novo” agradou e se transformou numa “possível solução”.
Este pensamento não leva em conta o nosso destino pessoal, porque perfeitamente, poderemos ser consumados até o processo terminar. Mas, mesmo que não estejamos aqui para participar da segunda parte do evento, a ideia de que haverá uma mudança para melhor, de que o sistema finalmente foi quebrado dando lugar a bases mais justas e coerentes, faz nascer uma leve esperança de tempos melhores.
Pode ser que, inconscientemente, este seja o evento por que todos esperavam. Estávamos acomodados, mas sabíamos que poderíamos estar bem melhores. Passamos a achar normal uma série de coisas que nos contrariavam profundamente. Não questionávamos talvez porque nos sentíamos impotentes.
Até que algo apareceu para nos mostrar que estávamos enganados, que tudo poderia sim, mudar e talvez melhorar.
A despeito de todas as mortes, sofrimentos, perdas materiais, financeiras e econômicas que possam decorrer dessa desconstrução, quem sabe os seres humanos possam aproveitar a oportunidade para se libertar de amarras e convenções. Não é uma boa ideia?
Mylene Prado